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Tijolos a mais na Grande Muralha

  • Categoria: Politica e Sociais
  • Publicação: 08/08/2025 20:10
  • Autor: Ricardo Lessa
Nada como um bom inimigo para juntar pessoas e países muito diferentes.  Donald Trump está conseguindo isso com os BRICS, sigla criada em 2001 pelo economista inglês Jim O'Neill para países muito heterogêneos, que iriam se destacar nas décadas seguintes.
As letras foram dispostas de maneira a soarem como brick, tijolo na língua inglesa. A ordem das letras não correspondem a importância de cada uma delas. O Brasil, que representa a letra inicial, teve crescimento econômico nos anos que se seguiram próximo ao do restante do mundo 3,2% versus 3,4%. 
A Rússia, letra seguinte, teve um desempenho melhor até 2008, mas nada impelisse o país para os primeiros lugares mundiais. Nem mencionemos o S da África do Sul, acrescentado posteriormente à sigla.
Os grandes destaques de crescimento econômico foram China, já se aproximando da líder planetária, e Índia, impulsionada pela maior população mundial. Embora pertencentes a continentes distantes e muitas vezes rivais no comércio mundial, a inimizade com o presidente americano vem motivando a aglutinação dos integrantes da sigla. Na última reunião sediada no Rio de Janeiro, novos convidados expandiram ainda mais a aliança, com participação de países tão díspares como Arábia Saudita, Irã e Etiópia,  entre outros.
O que terá o maior produtor mundial de petróleo com a Etiópia, não se sabe. Nem mesmo a oposição aos Estados Unidos, que oferecem tratamento privilegiado aos cidadãos sauditas em seu território.  E fecham os olhos para todo tipo de desrespeito aos direitos humanos perpetrados dentro do único país do mundo pertencente a uma só família, à família Saud.
A formação mais recente dos BRICS  lembra vagamente a dos países do Terceiro Mundo, ou Não Alinhados, que se esboçou nos tempos de Guerra Fria pretendendo ocupar a posição intermediária, entre o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos e o socialista, pela União Soviética.
Esse conjunto de países não chegou a ter organização formal e acabou se dispersando, por alinhamento com um ou outro bloco, e também por interesses muito divergentes.
No caso dos atuais BRICS, há uma forte interessada na sua manutenção, a China, que vem se beneficiando fortemente das barreiras e taxas criadas pelo presidente  americano.
Com uma população na casa do bilhão, superada recentemente pela Índia, país vizinho com histórica disputa de fronteiras, o governo chinês tem interesse pragmático claramente definido, expandir seus fornecedores e compradores em todo mundo.
O Brasil com a maior extensão de terra arável do planeta, sol e água em abundância, é um candidato lógico a fornecedor de alimentos e  mercado para as empresas  chinesas, função já desempenhada com louvor. A África igualmente tem sido um grande continente amigo,  fornecedor de matérias primas.
Há anos, o eixo do comércio mundial se deslocou do Atlântico Norte para o Oceano Pacífico, comandado pela China. 
Entre as costas americanas e europeias o volume do comércio representa atualmente cerca de 15% do fluxo mundial enquanto o do Pacífico de 30% a 40%. Ninguém se espante, portanto, com chegadas de imensos navios cargueiros e desembarques cada vez maiores de veículos BYD, GWM (Great Wall ou Grande Muralha Motors) e outras marcas chinesas. 
BRICS parece cada vez mais um tijolo Made in China, assado com matéria prima brasileira ou africana.