E SE ALI ENFRENTASSE TYSON?
- Categoria: Boxe
- Publicação: 01/12/2024 17:42
- Autor: Silvio Cosenza

Essa pergunta é feita desde 1986, quando Tyson aplicou o
desconcertante nocaute três em um sobre Trevor Berbick – foram três tombos para
um único “punch” – tornando-se o mais jovem campeão mundial de pesos pesados da
história. O tempo, se nos negou esse privilégio, teve a complacência de não nos
podar as asas da imaginação. Resta saber qual combate gostaríamos de
presenciar. Para tanto, se faz necessário nivelar os oponentes, lhes oferecendo
condições semelhantes, de forma que o evento não se parecesse com aquele
injusto confronto entre um já combalido Joe Louis de 38 anos (época que um
pugilista de 38 anos era quase um ancião) contra o ainda jovem Rocky Marciano.
Então veríamos:
OPÇÃO 1 – O Ali que não se levantou do tamborete para o
décimo assalto contra Larry Holmes, “versus” o Tyson nocauteado por Lenox
Lewis, ou seja, uma luta geriátrica;
OPÇÃO 2 – O Ali que retomou o cinturão ao mandar para o solo
o gigante Foreman, “versus” o Tyson que fez o mesmo contra Bruce Seldom; logo
um enfrentamento entre maduros, ou...
OPÇÃO 3 – O Ali que humilhou publicamente Linston, “versus”
o Tyson que desancou Michael Spinks em 90 segundos?
Se nossa preferência recair sobre a OPÇÃO 1, veremos Tyson,
ainda que decadente, em inequívoca vantagem, uma vez que Ali já manifestava
sinais de parkinson pela época que subiu ao ringue contra Holmes.
Caso nos voltemos para a OPÇÃO 2, a vantagem se inverte e o
que provavelmente veríamos seria o três vezes campeão dos pesados dar uma aula
de boxe a Tyson, fazendo com este pior do que fez Holyfield.
O verdadeiro enigma reside justamente na OPÇÃO 3, quando
contemplamos ambos na flor da idade e no apogeu de suas potencialidades físicas
e técnicas.
Me recordo que enquando Tyson reinou inconteste entre os
pesados, o mundo procurava um “novo Ali”, que colocasse em seu devido lugar
aquele jovenzinho insolente, que confessava ter “intenções assassinas” em cada
golpe. E o teimoso mundo do boxe tentou, primeiro com Tyrell Biggs, depois com
o “desaposentado” Larry Holmes e por fim com o já citado Michael Spinks, que
nem de longe e no escuro poderia se passar por Muhammad.
Aqui precisamos fazer justiça. Não é verdade que Tyson não
sabia boxear. O fato é que sua técnica, a despeito de muito apurada, era
heterodoxa e minimalista. Provo isso evocando aquele saltinho que ele dava, já
a curta distância, instantaneamente invertendo a guarda e ajeitando a esquerda
para o gancho devastador. Quantos notaram isso? Poucos, com certeza. Quem já
tinha visto isso antes dele? Ninguém. Mas o público queria Ali de volta ainda
que fosse através de um simples emulador.
A luta contra Biggs serviu de espelho côncavo daquilo que
seria um confronto entre esses dois monstros sagrados em termos estratégicos;
dito por outras palavras, refletiu uma imagem do objeto, porém distorcida.
Biggs até conseguia simular com certa perícia os movimentos de Ali, mas não
tinha deste o queixo duro, mãos e pés tão rápidos, nem muito menos sua
inteligência e entendimento quanto à alternância da postura no ringue.
Resultado: de possível “salvador do boxe clássico”, passou após Holmes e antes de
Spinks às estatísticas do bicho papão Tyson como mais um entre os 42 a beijar a
lona.
Em meu prognóstico, o embate entre os dois supercampeões se
assemelharia muito à “Thrilla in Manila”, a terceira e última das “Lutas do
Século” contra Joe Frazier em termos de brutalidade e desgaste. Ali sofreria as
mesmas agruras que sofreu ante Frazier, dada a intensidade de Tyson nos
assaltos iniciais, mas seu elevado Q.I. faria toda a diferença. Ora flutuando
como borboleta e picando como abelha, ora apelando para o “rope-a-dope”,
combinaria a valentia de James Douglas (o primeiro a vencer Iron Mike) e a
capacidade tática de Holyfield (único a vencê-lo por duas vezes). O duelo iria
até o último “round”, com Ali fustigando muito o rival entre o nono e o décimo
segundo e vencendo por unanimidade aos pontos.
Assim, tendo a linha do tempo tomado este rumo alternativo,
o “maior de todos” levaria para casa seu sexto cinturão, uma vez que, em
triunfantes retornos como desafiante, já teria destronado também Foreman e
Holmes, ambos igualmente jovens, no auge e novamente ex-campeões.
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