Os os olhos de Martin Scorsese
Os 82 anos de uma lenda
- Categoria: Análises e Críticas
- Publicação: 22/11/2024 16:09
- Autor: Marcus Hemerly
Aniversário da lenda Martin Scorsese, há décadas contribuindo para a sétima arte,
além de dedicar-se ao restauro de títulos de peso, incluindo o atemporal "Pixote", de Hector Babenco,em parceria com a Cinemateca Brasileira. Desde meados dos anos 2000, o diretor está à frente a Fundação Mundial do Cinema, que atua na preservação e restauração de obras
importantes às ciências cinematográficas.
No dia 17 de novembro, aniversariou uma ilustre lenda viva do cinema, o diretor nova-
iorquino Martin Scorsese, que revolucionou a sétima arte, estimulando e inspirando
inúmeros diretores desde os anos 70. Injustamente, Scorsese foi por muito tempo
rotulado como especialista em fazer filmes sobre o submundo do crime organizado,
nicho não totalmente por ele desconhecido, dada sua criação nos bairros italianos
daquela metrópole. Contudo, nem só de armas fumegantes e diálogos de wiseguys vive
o seu cinema; musicais como “New York, New York” e o sensível “Kundum”, sobre a
vida do 14º Dalai Lama, são recorrentemente citados como produções cult. Dramas,
tensões psicológicas e humanas marcam sua rica filmografia.
Impossível esquecer do delirante taxista Travis Bickle em Taxi Driver(1976), e seu ódio insurgente contra a
sociedade e as instituições organizadas. A frase famosa do personagem principal seria reprisada e
parodiadapelas décadas seguintes, quando Travis fala consigo mesmo diante do espelho “Are you talking to me?
(você está falando comigo?), traduzindo uma dinâmica gradual sobre a escalada da insânia.
Nesta mesma esteira, o bem montado “Touro Indomável,” cinebiografia do pugilista Jake
LaMotta será sempre exaltado como o veículo de uma das melhores interpretações da história.
Nos anos 90, a parceria Scorsese e De Niro produziriacalafrios aos espectadores com o tenso e
impressionante “Cabo do Medo” remake do clássico da década de 60, “Círculo do Medo”,
protagonizado por Gregory Peck, como o advogado alvo da vingança maligna do psicopata Max Cady.
Uma seleção de ótimas películas seguiria até os anos 2000, quando Scorsese receberia seu
primeiro Oscar na categoria melhor direção, pelo filme “Os Infiltrados” de 2006, inspirado na
festejada trilogia asiática Infernal Affairs. Com o lançamento de “O Irlandês”, disponível na Netflix,
rememora-se os grandes filmes do diretor remontando ao anos 90, que retrataram a máfia com um toque forte e incisivo, gravitando em torno da estrutura do crime organizado na América.
Trabalhando com seu companheiro de longa data e especialista em história da Cosa
Nostra, Nicholas Pileggi, detecta-se uma aura realista inquestionável, pois o escritor
detinha horas de entrevistas com mafiosos delatores e, em suas próprias palavras, não é
possível descrever em sua essência como um criminoso de Nova York fala; logo, no
cinema, tal material é devidamente explorado.
Assim como o cinema de Tarantino, não se trata de violência gráfica e estilizada, mas a transposição da mente
e o cotidiano de pessoas violentas e como esse cenário coexiste com a sociedade, em tom de elemento periférico
à sua cultura organizacional. Scorsese havia se enveredado pelo tema em um de seus primeiros filmes, “Caminhos
Perigosos” de 1973, iniciando sua bem sucedida parceria com Robert De Niro e Harvey Keitel, naquele espaço,
retratando na frieza das ruas, a cadeia alimentar da metrópole e suas almas atormentadas.
Uma característica marcante nas aludidas obras, assim como em “O Irlandês”, é a
utilização perfeita do recurso de narrativa sobreposta às cenas, denominado voiceover.
Alguns críticos podem argumentar, e de maneira bastante pertinente, que o recurso de
narrativa sobreposta seria uma tentativa de contar a história quando esta apresenta-se
falha em seu desenvolvimento linear, suprindo suas deficiências de uma forma menos
sofisticada. Contudo, é preciso que se componha um verdadeiro e bem
composto voiceover, que apenas acrescenta à trama.
Decerto, filmes como “Cassino” e “Bons Companheiros” perderiam o colorido sem os
pensamentos e pontos de vista dos personagens
Henry Hill (Ray Liotta) e Sam “Ace” Rothstein (De Niro), conduzindo o espectador em
uma viagem da qual ele hesita de se evadir. Analisado sob o ponto de vista crítico,
descortina-se uma verdadeira aula de cinema a cada produção do realziar, espaço no
qual se verifica técnica e arte num cotejo perfeito, produzida por uma equipe recorrente
como a renomada montadora Thelma Schoonmaker e a figurinista Barbara De Fina.
Um de seus mais recentes longa-metragens, baseado no livro “I heardyou paint houses”
de Charles Brandt, “O Irlandês”, em suas três horas e meia de duração, acompanha a trajetória de
Frank Sheeran (De Niro), assassino da máfia e membro dos Teamsters, além
da ascensão e derrocada do famoso líder sindical norte-americano Jimmy Hoffa,
interpretado magistralmente por Al Pacino em seu primeiro trabalho com o diretor.
Na produção, foi utilizado um recurso inovador, consistente em uma técnica de
rejuvenescimento digital, pela qual o elenco interpreta personagens até mesmo trinta
anos mais jovens, como Pacino, tendo em vista que o septuagenário ator retrata Hoffa
aos 49 anos de idade, através da inserção de pontos digitais na maquiagem e a utilização
de câmeras com lentes duplas e em maior quantidade.
O resultado, uma obra-prima que recebeu qualificação de até 100% pelos sites e crítica
especializada, além de dez indicações ao Oscar. Infelizmente, a película não foi
vencedora em nenhuma das nomeações, e ainda protagonizou a polêmica pelo fato de
ter sido concebida originalmente como uma produção realizada para o serviço
de streaming, o que justificou seu curto e limitado lançamento nos cinemas, para
chancelar sua participação no prêmio da academia. Não foi nessa oportunidade, mas a
expectativa é considerável para uma segunda estatueta ao mestre filmmaker, nos anos
vindouros.
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