O segundo episódio da série biográfica de Chespirito, como já era esperado, trouxe muitas surpresas aos telespectadores. Logo na cena de abertura, temos a participação especial de Edgar Vivar, o Senhor Barriga da série original. Desta vez, ele está ocupando a cadeira de diretor em uma cena cômica escrita por Roberto Gómez.

O diretor elogia o texto do protagonista e diz que ele poderia ser considerado um “pequeno Shakespeare”. No início, Roberto fica encabulado com o novo apelido, mas, na saída do estúdio, um colega o chama de “Chespirito”. Surpreso, Roberto pergunta como ele o chamou, e o colega responde:

— Eu te chamei de Chespirito. Não foi assim que o diretor te chamou? Ou falei errado?

Então Roberto responde:

— Não... eu gostei de como soa: Chespirito.

Mal sabia ele que, tempos depois, esse seria o nome de batismo de seu primeiro programa de humor na televisão.

Em mais um salto no tempo na série, vemos exatamente esse ato: a criação de seu primeiro personagem, o Doutor Chespirito Chapatin. Assim como mostrado no primeiro episódio, na juventude, Roberto costumava ficar acordado à noite encenando em frente ao espelho, atrapalhando o sono de Horácio e seus outros irmãos. Já mais velho, enquanto escolhe cuidadosamente o visual de sua primeira criação, repete o mesmo costume da juventude: imita um velho com peruca, bigode, óculos e seu adereço mais característico — um saquinho marrom, cujo conteúdo sempre seria um mistério para o grande público.

E adivinhem? Assim como na juventude, Roberto escolhe o cair da noite para realizar todo o experimento de criação de seu pioneiro Doutor Chapatin. Mas, desta vez, a "vítima" foi sua filha, que se assusta ao ver o próprio pai vestido como o personagem, provocando uma cena hilária.

Mesmo com certa resistência dos executivos de televisão, eles resolvem apostar em um projeto de Roberto, que inicialmente iria fazer parte de outro programa humorístico e de entretenimento. Com a ideia aprovada e um personagem criado, ainda faltava o restante do elenco.

É aí que conhecemos uma amizade que Roberto levaria para o resto da vida: estou falando de Rubén Aguirre, que, através do convite do amigo, deixou o cargo de analista de conteúdo em um escritório para dar vida ao Professor Rubén Girafales. Mas ele precisava de um ponto de equilíbrio entre a figura correta e inteligente do professor, então foi para o outro extremo: um bêbado, personagem que ele havia decidido que seria vivido pelo ator que mais o fez rir na vida.

É aqui que Don Ramón entra em cena, e claro que não pensa duas vezes antes de aceitar o projeto. Mas o grupo ainda precisava de uma figura feminina, jovem e carismática. Então Roberto vai ao encontro de Maria Antonieta, que estava se apresentando em uma peça como Cleópatra. No início, ela se surpreende com o convite — e até mesmo se ofende com a oferta, já que se reconhecia como uma atriz séria, de papéis dramáticos. Com a insistência de Roberto, ela acaba aceitando, mas diz que seria por pouco tempo. Ele, quase em tom profético, responde:

— É isso que vamos ver.

Curiosamente, tanto Rubén Aguirre quanto Maria Antonieta permaneceriam nas séries de Roberto até o fim de sua carreira na televisão.

Com o elenco formado, temos um show de cenas que fazem os olhos dos fãs mais apaixonados por Chaves brilharem, ao recriar cenas de abertura e cenários do primeiro programa de humor de Chespirito: Os Super Gênios da Mesa Quadrada.

Em outro corte de cena, já entendemos que o programa é um sucesso de audiência e caiu nas graças do público. Mesmo com o êxito como estreante na televisão, o programa sofre com ordens do diretor, que pede que aproveitem o sucesso para criticar a concorrência. E, claro, essa empreitada não foi bem vista pelo público, que já se acostumava com o humor leve e inteligente de Roberto.

Particularmente, acredito que toda essa sequência — com os elementos nostálgicos das cenas dos Super Gênios — é um dos pontos altos desse episódio. Mesmo dividindo tempo de tela, a saga dos bastidores da gravação em Acapulco perde um pouco de força, pois escolhe focar apenas nas polêmicas. Enquanto isso, as cenas como a criação do Doutor Chapatin e o surgimento da primeira formação de elenco são muito mais empolgantes e divertidas.