O último filme de Spielberg é uma armadilha: Os Fabelmans
- Categoria: Critica de Filmes
- Publicação: 06/12/2024 20:11
- Autor: Santiago Tapia

“Eu venho me escondendo dessa história desde os 17 anos”, disse Steven Spielberg ao receber uma ovação de pé depois de ganhar o Globo de Ouro de Melhor Direção por Os Fabelmans, seu filme mais recente. Nos últimos anos, vários diretores renomados decidiram lançar suas obras mais pessoais, aquelas que falam diretamente sobre si mesmos. Em 2019, foi o caso de Scorsese, com O Irlandês; Tarantino, com Era Uma Vez em Hollywood; e Almodóvar, com Dor e Glória. Em 2022 chegou a vez de Spielberg, e o resultado é, como era de se esperar, um filme lindíssimo.
Nesta história sobre um jovem que descobre seu amor pelo cinema e o usa como ferramenta para se expressar e enfrentar os desafios da vida, Spielberg se revela com uma honestidade admirável. Ele entrega um filme que não só trata o cinema como algo mágico, mas que também traz um contraponto mostrando que é um ofício que exige técnica e muito trabalho duro. Não é uma idealização simplista, mas sim uma representação mais profunda do que significa ser um aspirante a cineasta – sem deixar de ser leve e acessível para o público.
Essa combinação de magia inexplicável e técnica não está apenas na história, mas também na forma como ela é contada. Não é segredo que Spielberg domina a arte de montar uma cena, e ele prova isso mais uma vez com um plano-sequência incrível. Uma cena que outros diretores resolveriam com dezenas de cortes, ele resolve com um único plano deslumbrante, perfeito para mostrar os momentos antes de o protagonista, ainda criança, ser encantado por sua primeira experiência diante de uma tela de cinema.
Faz muito sentido que, para Scorsese, Tarantino e Almodóvar, ser o mais honestos consigo mesmos signifique mergulhar em nostalgia, solidão, dor e até cinismo; enquanto, para Spielberg, isso resulte em um filme absolutamente carismático e encantador. Os Fabelmans retrata o amor pelo cinema sem deixar de lado o trabalho duro que ele exige. Tem alguns clichês, mas são bem usados, tem humor e nunca pesa a mão na solenidade. E ainda conta com David Lynch interpretando John Ford, sinceramente, não dá para pedir mais. É cheio de referências para quem ama cinema, não só o de Spielberg, cinema em geral.
Por tudo isso, o novo filme de Spielberg é uma armadilha, uma emboscada. Parece feito sob medida para que o único resultado possível seja você adorar. Principalmente se você ama o Hollywood clássico e/ou o Novo Hollywood. Spielberg te prende em um beco e diz: “Esse filme vai te conquistar, ponto final”, e você aceita, sorrindo.
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