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“As Polacas”: o drama do tráfico de mulheres

Crítica do longa-metragem “As Polacas” (2024)
  • Categoria: Análises e Críticas
  • Publicação: 04/12/2024 14:12
  • Autor: Bia Malamud

“As Polacas” filme de João Jardim, que estreia no dia 12/12, traz uma história desconhecida do final do século XIX e início do século XX. Nesta época, jovens judias fugindo da pobreza, fome e violência na Europa Oriental eram aliciadas pelo tráfico de mulheres por cafetões que, muitas vezes, as noivavam em suas aldeias natais com promessas de casamento. Este terrível drama ocorreu de forma sistemática neste período no Brasil, na Argentina e, possivelmente, em outros países.

Nesta nova safra do cinema brasileiro em que o destaque fica por conta do filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, temos que festejar também a chegada de “As Polacas”. Os dois filmes desenterram aspectos e fatos da história brasileira que costumam ser, usualmente, esquecidos. O cinema como um verdadeiro trabalho de arqueologia é fundamental para o registro do passado e, assim, firmar uma identidade verdadeiramente brasileira.

A história linear é bem contada e traz grandes atuações de Caco Ciocler, no papel do cafetão Tzvi, e de Valentina Herszage como Rebeca, uma jovem mãe judia. Vale lembrar que Valentina também brilha na telona em “Ainda Estou Aqui” como Vera, a filha adolescente politizada de Rubens e Eunice Paiva.

 O conluio entre o gigolô e a polícia é explícito. E a luta de Rebeca por seu filho Joseph, e por sua libertação do bordel, emblemática. Aliás, Valentina Herszage dá um show de interpretação com uma atuação em que se mostra ora destemida, ora destruída pela violência, mas sempre inconformada.
E pode-se afirmar que Caco Ciocler tem no impiedoso traficante de mulheres Tzvi o papel de sua vida. Ciocler abandona aqui sua aura de jovem galã para compor um personagem melífluo, sedutor e atroz. Sem concessões.

O sempre impecável Otávio Muller está ótimo como o agente da polícia e imigração, assim como Amaurih Oliveira no papel de Isaac, e Dora Freind como Débora.

A produção é da carioca Iafa Britz. No comando da produtora Migdal, ela já trouxe para as telas “Minha Mãe É uma Peça – O Filme”, entre outros. Vale ressaltar aqui o capricho na produção com imagem e som de excelência que ultrapassam em qualidade o que comumente se vê no cinema brasileiro. Locações bem escolhidas, cenários e figurinos primorosos compõem esse quadro.

As filmagens em preto e branco do Rio de Janeiro do início do século passado em meio à narrativa é um recurso interessante por oferecer um  panorama da cidade, mas principalmente por trazer um certo alívio em meio ao terrível drama que se desenrola na tela.

Também chama a atenção o uso excessivo de close-ups, indicando uma produção mais voltada para a TV ou para o streaming, pois este recurso é amplamente utilizado nas novelas televisivas.

E para quem assistiu o musical “Um Violinista no Telhado” (1971), com o excepcional Chaim Topol como o leiteiro Tevye, pode-se enxergar algumas semelhanças quando os personagens partem em busca de alguma redenção. Um tema atual num mundo globalizado pois trata, em ambos os filmes, das sagas de imigrantes, sofridos e deslocados, pelos mais diversos motivos. 

   Bia Malamud