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Crítica do filme O QUARTO PODER (1998)

Análise do longa do cineasta Costa-Gavras
  • Categoria: Análises e Críticas
  • Publicação: 01/12/2024 15:10
  • Autor: Givaldo Dias

Sam Bailey, um pai de família desesperado após ser demitido de seu emprego de segurança de um museu retorna ao local para falar com a proprietária e assim tentar recuperar seu trabalho. A mulher se recusa a escutar o que Sam tem a dizer, então ele não vê outra alternativa e a ameaça com uma arma, durante a discussão ele acidentalmente acerta um tiro no outro segurança que estava em serviço. Sem saber o que fazer, Sam fecha o local completamente e toma de refém a proprietária.

 

No meio disso tudo um grupo de crianças num passeio ao museu também se torna refém do ex-empregado, só que ele não esperava a presença de um jornalista enviado ao museu para uma matéria bastante trivial, escondido dentro do banheiro, o jornalista está à espreita de não apenas uma matéria, mas de sua escada de volta ao estrelato e está disposto a tudo para conseguir o que quer.

 

O cineasta Costa-Gavras faz aqui uma ferina crítica ao jornalismo sensacionalista, mostrando como um acontecimento desses ou qualquer outra notícia pode ser manipulada e transmitida da maneira que possa resultar maior audiência. Sabendo que notícias negativas atraem mais a massa, então se aproveitam o máximo que podem conseguir, onde a questão inicial do personagem é praticamente esquecida, por mais errado que Sam Bailey, interpretado por John Travolta esteja, ele não é o monstro que a mídia tenta transformá-lo, fazendo dele um vilão cruel aos olhos do público, aproveitando-se sempre do fato de Sam ter atirado no guarda, as reportagens querem passar uma verdade persuasiva na qual Sam poderia ter atirado no segurança por raiva dele ter ficado no emprego e Sam não.

 

O jornalista Max Brackett, interpretado por Dustin Hoffman, é bastante ambicioso e sabe que tem uma matéria de ouro em suas mãos, mas com o pouco período de convivência com Sam ele percebe que está diante de um homem que se tornou refém da situação que ele mesmo criou sem querer, é ingênuo, assustado e não tem nenhuma intenção de machucar alguém. Max, então, quer agora não apenas se ajudar, mas também ajudar Sam, mostrando em sua matéria a verdadeira versão da história e que ele é de fato uma boa pessoa.

 

A situação começa a sair ainda mais dos trilhos quando um repórter rival da antiga emissora onde Max trabalhava quer roubar a matéria e faz totalmente o inverso de Max, quer mostrar Sam como sendo uma pessoa extremamente perigosa e que pode matar qualquer um a qualquer momento.

 

No final das contas tudo se torna uma guerra civil pela audiência travada pelas emissoras e jornalistas em busca de um furo exclusivo não importa como seja, nem que para isso tenham que invadir a privacidade de um hospital, em vários momentos Costa-Gavras faz questão de frisar bem quem é o vilão da trama, a mídia sensacionalista e sedenta por audiência, uma das melhores citações é na cena em que duas crianças são libertadas e ao sair pela porta da frente do museu são cercadas de repórteres querendo entrevista-las e as crianças se vêem encurraladas e assustadas, começam a recuar para voltarem ao interior do museu, ou seja, para elas, ficar com o sequestrador  era menos assustador do que aquele bando de repórteres com câmeras cheias de luzes fortes em cima delas.  Para a mídia naquele momento Sam Bailey é o protagonista de uma peça, cujo roteiro vai sendo escrito conforme o público reage com as informações passadas pelos noticiários e tabloides cobrindo o caso.

 

“O Quarto Poder” é um excelente suspense realista que sabe muito bem equilibrar a tensão interna e externa com os dramas pessoais dos personagens, Sam e Max são duas pessoas em decadência, cada um à sua maneira, ambos querem se reerguer e estão dispostos a irem contra seus limites mesmo que isso possa custar algo inestimável para ambos.

Um filmaço, altamente recomendado.