A ARTE DO ATOR – REFLEXÕES A PARTIR DE JEAN JACQUES ROUBINE
Jean-Jacques Roubine, professor do curso de Teatro da Universidade de Paris VII, nos convida em A Arte do Ator a revisitar a essência e a evolução de um dos mais fascinantes ofícios humanos: o de interpretar.
- Categoria: Cinema
- Publicação: 02/10/2025 18:09
- Autor: Loide Almeida

Seu livro não é apenas um manual de técnicas, mas um mergulho nas camadas que compõem o trabalho do intérprete. Roubine organiza a atuação em partes que dialogam entre si: a voz, o gesto, o corpo, o rosto, o papel, o ator, o diretor e, por fim, o espectador. Cada camada é uma porta de entrada para compreender que o teatro é, sempre, a soma de encontros.
O autor relembra que o teatro de vanguarda norte-americano e as pesquisas de Grotowski, somadas às experiências descobertas pela França entre as décadas de 1960 e 1970, estimularam uma geração de jovens atores a aprofundar o trabalho vocal e corporal. Essas buscas abriram caminhos para novas técnicas e para uma forma mais integral de compreender o palco.
Entre as reflexões de Roubine, uma frase ecoa de maneira especial:
“Para um ator, saber escutar é tão importante quanto saber fazer-se ouvir.”
Numa época em que a cena se tornou cada vez mais híbrida, influenciada pelo cinema, pela performance e pelas linguagens digitais, essa lembrança é quase um manifesto. A escuta atenta não é apenas uma qualidade técnica: é uma postura ética e artística. Sem ela, o ator não consegue dialogar nem com o parceiro de cena nem com o espectador.
Hoje, o universo do palco é um mosaico de vozes, teorias e influências. Bebemos de muitas fontes, experimentamos linguagens audiovisuais e, por vezes, criamos nossas próprias metodologias. Mas essa liberdade criativa só se fortalece quando olhamos para as pesquisas que nos precederam. Roubine nos recorda que todo novo passo nasce de um diálogo com o que veio antes.
“A presença do ator nasce antes da palavra: é um silêncio atento que se oferece ao outro.”
Jean-Jacques Roubine
“Um ator não é aquele que fala e é ouvido, mas aquele que só fala do fato de estar sendo ouvido, como se finalmente, no teatro, só houvesse o ato de ouvir, como se a sua voz fosse, em última análise, o barulho produzido pela atenção dos espectadores, a música feita pela escuta da sala.”
Le Monde, 30 de junho de 1983
A arte de atuar é uma obra em permanente construção. Não é um ponto de chegada, mas um caminho que se escreve com cada gesto, cada pausa e cada olhar que se oferece ao outro. O ator que escuta é aquele que se permite ser ponte entre mundos, entre o silêncio e a palavra, entre a cena e a plateia.
“Le théâtre n’existe que par la rencontre entre le comédien et le spectateur.” (O teatro só existe pelo encontro entre o ator e o espectador.)
Num tempo em que a pressa ameaça engolir o sentido do encontro, o teatro nos convida a reaprender a escuta. Porque é nela que a arte do ator encontra sua verdade mais simples e, ao mesmo tempo, mais profunda, aquela que liga palco e plateia em um instante vivo e irrepetível.
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