Análise do filme Dentro (Inside - 2023)

Diretor: Vasilis Katsoupis

Elenco: Willem Dafoe, Gene Bervoets, Eliza Stuyck, Andrew Blumenthal

     

    Nemo é um ladrão de obras de arte que invade uma luxuosa cobertura, para furtar peças de um renomado artista. Porém, o roubo fracassa quando seu plano de fuga dá errado e ativa um sistema de lockdown, e ele se vê preso dentro do apartamento, obrigado a procurar recursos para sobreviver e arquitetar uma maneira de escapar.

    O filme já começa muito instigante com esse paradoxo, de um homem cercado de luxo, tecnologia e arte, tendo que lutar desesperadamente para buscar recursos básicos, simplesmente para conseguir sobreviver. No entanto, a medida que o tempo passa e o filme avança todo esse clima claustrofóbico e tenso vai se perdendo, pois a narrativa começa a se tornar repetitiva e arrastada.

    É nesse ponto que percebemos que "inside" não é um Thriller de sobrevivência, mas sim, um filme com propósito de discutir a própria arte e sua relação com o homem, e para isto usa e abusa das alegorias e simbolismos.

    A começar pelo próprio nome da personagem de William Dafoe - "Nemo".

    Seria uma alusão ao peixe da animação uma vez que o apartamento é todo envidraçado e possui um sofisticado sistema de câmeras de segurança,  permitindo que ele veja toda a cidade e algumas pessoas do prédio, mas sem poder interagir com as mesmas? Ou seria uma referência ao Capitão Nemo, de Júlio Verne, que encontra sua realização a partir de seu Submarino de última geração, o "Nautilus", porém, o isolamento o leva a desconexão com a realidade e afeta sua sanidade?

    Por falar em sanidade, impossível analisar "Inside" sem destacar a atuação de William Dafoe, sem dúvidas, um dos melhores atores contemporâneos e a força motriz deste longa. É simplesmente hipnotizante assistir seu personagem surtando pouco a pouco. Dafoe consegue através de sua expressão corporal, pouquíssimas palavras e alguns grunhidos, nos transmitir de forma quase sensorial toda sua angústia, tédio e desespero, rumando diretamente para a loucura e ao caos. E a partir desse estado caótico, Nemo, busca através da ressignificação da arte, sua salvação ou transcendência.

    Certamente, teremos em "Inside", um filme que irá dividir opiniões. Para aqueles que buscam uma relação mais direta, frontal e objetiva com o longa, a jornada pode se tornar maçante e cansativa, entretanto, para os que conseguirem, se conectar com a obra, de forma mais abstrata e metafórica, poderá ser uma experiência bastante impactante e recompensadora.