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Análise "A Primeira Noite De Um Homem (1967)"

  • Categoria: Critica de Filmes
  • Publicação: 24/07/2025 10:42
  • Autor: Felipe Haurelhuk( Meu Tio Cinéfilo)


Elenco principal: Dustin Hoffman, Anne Bancroft, Katharine Ross.

Alguns filmes tornam-se particularmente memoráveis e/ou importantes na história do cinema, e por inúmeras razões: um ótimo roteiro, uma trilha sonora marcante, cenas memoráveis, direção firme e segura, avanços tecnológicos surpreendentes, ou simplesmente por carregarem a marca impressa de uma época. “A Primeira Noite De Um Homem” traz consigo vários desses elementos. Aqui, Mike Nichols (que já tinha demonstrado seu talento em “Quem Tem Medo De Virginia Wolf?”, de 1966) conduz a história de um jovem recém-graduado, detentor de um currículo acadêmico brilhante, que volta para a casa de seus pais e passa a enfrentar conflitos e dilemas pessoais típicos da juventude.

 

Benjamin Braddock foi muito bem interpretado pelo então recém-estreante Dustin Hoffman. Logo no início da história, percebemos a inquietude e o incômodo de seu personagem durante a festa de celebração organizada pelos seus pais. Seu sentimento em relação à conclusão do curso é diametralmente oposto aos convidados da festa: inseguro, acuado e até mesmo pressionado, o desconforto do jovem é reforçado em uma bela seqüência na qual Hoffman segue cumprimentando vários convidados e, incomodado, corre novamente em direção ao refúgio de seu quarto. Nichols torna essa seqüência particularmente interessante por usar uma câmera na mão próxima ao rosto de Hoffman quase todo o tempo, quase em um plano-sequência, em um ótimo exemplo de como aquela nova geração de cineastas do final de década de 1960 vinha modificando certos lugares comuns até então praticados pelos grandes estúdios da “velha Hollywood” (leia mais aqui).

 

Em uma das metáforas mais bem construídas do filme, essa realidade do rapaz nos proporciona também uma seqüência na qual Hoffman entra na piscina de sua casa com uma pesada e angustiante roupa de mergulho. Sua visão a partir dali é bastante limitada pela viseira do roupão, através do qual ele observa seus pais incentivando-o a entrar na água. Ao fazê-lo, Benjamin vai logo ao fundo e ali permanece imóvel, servindo-se apenas dos tubos de oxigênio que fornecem o necessário para não se afogar.

 

Esse incômodo do personagem só será quebrado com a aparição de Mrs. Robinson, em um excelente trabalho de interpretação de Anne Bancroft. Na cena mais lembrada e reproduzida deste filme, ela exibe suas pernas para o jovem que, atabalhoado, exclama: “Sra. Robinson; você está tentando me seduzir, não está?”. O envolvimento entre os dois, que culmina na primeira experiência sexual do jovem, é responsável pelo primeiro ponto de virada do filme. Através do choque de gerações em um relacionamento arriscado e secreto, o diretor faz de Mrs. Robinson uma libertadora daquele Benjamin teso e claustrofobicamente retido nas expectativas de seus pais quanto ao seu futuro.

 

Mais relaxado, Benjamin agora passa seus dias entre a piscina e o quarto e suas noites na companhia da amante. As várias perspectivas e possíveis saídas do jovem acabam se confundindo e, na falta de um estímulo claro e direcional, ele opta por permanecer inerte, curtindo seu momento como uma válvula de escape do que era sua vida até então. Preocupados, seus pais encorajam um encontro seu com a filha de velhos amigos da família: Elaine Robinson, filha de Mrs. Robinson (interpretada pela belíssima Katharine Ross). Daqui em diante não existe mais uma “zona de conforto” para o rapaz, que passará a ter que lidar não só com a pressão social de seu modo despretensioso de vida, como também com a complicada relação de ciúmes e descobertas que se constrói entre o trio protagonista (Hoffman, Bancroft e Ross). Novo destaque aqui para as atuações do trio principal e para algumas seqüências específicas, como o primeiro encontro entre Benjamin e Elaine (trágico e cômico na medida certa) e o conflito entre Benjamin e Mrs. Robinson no quarto de hotel, que proibira seu envolvimento com a filha.

 

O segundo ponto de virada da trama, que conduz a história ao seu final, acontece quando Elaine muda-se de cidade a fim de também cursar a universidade. Nesse momento o jovem Benjamin, agora mais maduro e resoluto, toma uma decisão unicamente pessoal pela primeira vez em sua vida e corre atrás de Elaine para atingir o seu objetivo de reconquistá-la. Ao som da inesquecível trilha de Simon & Garfunkel, o rapaz dirige seu conversível até a cidade e passa até mesmo a viver em um pequeno quarto de pensionato para atingi-lo. O clímax do filme é totalmente entusiasmante; e a cena final coroa o belíssimo trabalho de Mike Nichols com a incerteza dos personagens em relação ao seu futuro. Mais uma prova de como aquela nova geração de cineastas estava deixando o velho sistema de grandes estúdios para trás.

 

Verdadeiro clássico, o filme está disponível no Brasil em DVD de ótima qualidade (com exceção das legendas, esteticamente feias e mal traduzidas) e é obrigatório. O filme foi indicado em sete categorias do Oscar (veja abaixo), sendo que Nichols levou a estatueta para casa. A trilha sonora ficou de fora da lista porque as canções “The Sound Of Silence” e “Mrs. Robinson”, ao contrário do que muitos acreditam, não foram originalmente compostas para o filme.

 

Realmente fico muito feliz por estrear esse blog com o pé direito. Já temos, de cara, um forte candidato ao prêmio principal de 1967. Vamos ver se o meu veredito e o do meu tio vão bater. O próximo filme analisado deste ano será “O Fantástico Doutor Dolittle”, superprodução da 20th Century Fox estrelada por Rex Harrison. Fique ligado!

 

E você, já assistiu “A Primeira Noite De Um Homem”? O que achou do filme? E desta crítica? Comente abaixo! Sua opinião é muito importante.