Comemorar com memória
- Categoria: Geral
- Publicação: 11/09/2025 14:40
- Autor: Ricardo Lessa

Comemorar com memória
Por Ricardo Lessa
Acabamos de passar pelo 7 de setembro. Não quero atrapalhar a festa de ninguém. Até sugiro que façamos como os americanos. Quando o feriado cai no domingo, eles transferem para segunda, para o pessoal aproveitar mais.
Mas, vale pensar nessa e em outras datas comemorativas de nosso calendário. Todos os historiadores, ou quase todos, já chegaram à conclusão que no 7 de setembro nada aconteceu de importante. Ninguém morreu nas margens do Ipiranga. A conclusão majoritária entre os acadêmicos é que a independência ou separação do Brasil de Portugal, foi um longo processo, que começa para uns em 1808, para outros em 1815 e vai até 1831, quando Pedro é expelido do país.
Mas como disse Brecht, num bordão muito repetido, triste do país que precisa de heróis. O pior é quando o país homenageia heróis errados. Continua sem resposta minha pergunta: "Qual ato heroico Pedro Um fez pelo Brasil?". A independência já sabemos não demandou nenhum heroísmo. A "Carta Outorgada", que muitos louvam pelos 65 anos de suposta estabilidade escravista, também não precisou de nenhuma gota de sangue ou suor.
Mas vamos para outras datas que continuam no calendário de nossos feriados. Logo teremos o 12 de outubro, celebrado como N. S. Aparecida ou N. S. do Brasil. Foi criado durante a ditadura militar. Sem querer atrapalhar a peregrinação de ninguém, lembremos que era o aniversário de Pedro Um. Ele mesmo, o Bragança. Por coincidência também chefe da igreja no Brasil no seu tempo, apesar de notório devasso.
Homem do seu tempo, diz outro bordão, como tantos outros, fáceis de se repetir e bom de encobrir, como canta com ironia Chico Buarque, em "Bom conselho". Todos foram homens de seu tempo, os bons, os ruins, os mais ou menos. Os canalhas e os progressistas, os escravizados e os escravistas. Pedro se encaixava em qual desses perfis de sua época? Seus anos de poder correspondem aos de maiores desembarques de africanos comercializados como bichos no maior porto negreiro do mundo, o Rio de Janeiro.
Longe de mim ser contra a fé alheia. Mas lembrem. Essa data é uma sutil lembrança de um tempo em que se torturavam os negros.
Aliás, 13 de maio, da assinatura da Lei Áurea, lembra outro aniversário, de D João, pai de Pedro, igualmente chefe da igreja em seu tempo e notório defensor da escravidão. A abolição, segundo os contemporâneos, era o único assunto que lhe tirava do sério.
Enfim, comemoremos! Sem perder a memória.
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