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Nada como um dia após o outro

Na ditadura militar se criou uma propaganda com a seguinte mensagem: “Exportar é o que importa”.
  • Categoria: Politica e Sociais
  • Publicação: 14/08/2025 23:49
  • Autor: Rodrigo Botelho Campos - economista”
Exportar passou a ser disseminado intencionalmente no inconsciente coletivo como algo valorado como positivo, chegando a ser associado a algo melhor do que atender o mercado interno. 

Exportar é importante por várias razões: compensar as importações no balanço comercial, parte do balanço de pagamentos das contas nacionais, por exemplo. Tem, contudo, consequências no nível de preço interno, decorrente da “lei de ferro” da “oferta X demanda”.

Agora, com as tarifas impostas recentemente pelo governo americano aos nossos produtos, o brasileiro vai compreender o impacto das exportações no preço dos produtos que consome. 

A “lei de ferro” da “oferta X demanda” não foi revogada. No capitalismo brasileiro está na Constituição: a célebre “economia de livre mercado”. Aumentando a oferta, o preço cai. Diminuindo a oferta, o preço sobe. Com todas as consequências que nos impactam na taxa de inflação, mas também em outras dimensões, como a taxa de câmbio, nível de atividade econômica, etc.

Exportar reduzindo a oferta interna gera aumento de preço interno, inflação. Se isto acontece em momento de aumento de renda e consumo, o preço sobe. Foi exatamente isto que aconteceu no Brasil recentemente. E da-lhe pancada no Lula! 

Ai, a autoridade monetária, “independente”, responsável por zelar pelo controle da inflação gerada pelos fornecedores que aumentam os preços, aumenta a SELIC para esfriar o consumo interno e, consequentemente, a atividade econômica, podendo no limite gerar desemprego. “Os justos pagam pelos pecadores”. 

O Brasil não contingencia exportações para segurar o preço interno. Tem países que o fazem. Não é uma ação neutra, tem consequências, principalmente na inflação. É importante a sociedade compreender isto para escolher o alvo da crítica: o governo federal ou o exportador? 

Agora, com as tarifas americanas altas dificultando a exportação para aquele país, o produtor está compelido a oferecer o que não exporta para outros países dentro do Brasil. Aliás, pela importância de exportar, a primeira reação foi procurar novos mercados. 

Toda ação humana nunca é neutra, tem mais de uma consequência. Que este momento histórico seja um aprendizado, que seja pedagógico para o nosso povo, que criticou há pouco tempo o governo federal pelo nível de preço.

O que segura preço é oferta. O mercado tem irracionalidades. Agora, com a não exportação, já tem empresário querendo destruir produto (ao invés de doar para ações de assistência social) para forçar o preço a subir por diminuição da oferta.

O processo de acumulação do capital se dá a partir da venda de produtos e serviços e sua apropriação privada pelos donos dos meios de produção. O transbordamento para fora do território nacional, chamado de exportação, faz parte disto. 

Nunca se diz que parte significativa do que é exportado é feito por empresários privados e que muitos deixam o dinheiro lá fora. O Banco Central informou estes dias que há cerca de US$650 bilhões de brasileiros fora do Brasil. Isto é o registrado formalmente. Imagine o que saí clandestinamente. O FMI certa vez estimou que há US$200 bilhões não registrados. Muito do que foi faturado lá fora pelos exportadores não voltou…

Portanto, este momento serve para refletir sobre o impacto na vida brasileira não apenas das taxas americanas, mas o que elas provocaram no âmago da atividade produtiva nacional e suas consequências. 

“Nada como um dia após o outro”, ensina a sabedoria popular acumulada!

Vamos adiante, lutando!