A extrema direita com foco em políticas anti-imigração e discursos xenofóbicos vêm avançando no Japão, sendo visto após resultado de prévias iniciais divulgados pela TV estatal NHK no último domingo para as próximas eleições que concorrem a cadeiras na Câmara Alta do Parlamento Japonês.

O atual governo do Partido Liberal Democrata PLD, do Primeiro Ministro Shigeru Ishiba aliado ao de centro Komeito, ficou com a minoria em disputa para o Senado, perdendo o apoio maior que tinha até então.

Foto: Atual Primeiro Ministro do Japão, Shigeru Ishiba do PLD (Partido Liberal Democrata)

A insatisfação populacional diante da alta da inflação é um dos motivos mas um dos pontos principais, é a ascensão do Partido Sanseito liderado por Shoei Kamiya e também conhecido como “Trump japonês”, por conter valores ligados a extrema direita pelo mundo, incluindo a ligação com as dos Estados Unidos.

Foto: Shoei Kamiya, opositor e líder do Partido Sanseito

Atsushi Matsuura, de 54 anos, um cidadão presente em uma seção eleitoral de Tóquio, relata:

“Os preços básicos estão subindo, mas o que mais me preocupa é que os salários não aumentam”.

Hisayo Kojima, um aposentado de 65 anos, lamenta a redução de seu poder de compra:

“Pagamos muito para sustentar o sistema previdenciário. Este é o problema mais urgente.” – alega.

Marcando território

Neste cenário, os ultraradicais do Partido Sanseito, avança diante da cooptação de quem está insatisfeito para promover a sua agenda.

Os nacionalistas surgiram durante a pandemia da Covid-19 tomando as redes sociais mais utilizadas pelo público japonês, ganhando destaque ao fomentar as frustrações da população local contra os estrangeiros, e utilizando acusações contra o atual governista de globalismo e negligência.

Com o seu slogan “Japão Primeiro” que remete a Alemanha nazista e a Itália fascista nos anos 30 onde o Japão na época fez parte do eixo, os populistas obtiveram um salto na Assembleia conquistando entre 10 e 22 assentos, sendo que até então ocupam apenas 2.

Foto: Lideranças e apoiadores do Sanseito em comício nas ruas japonesas. A direita, bandeira que remete ao ultranacionalismo japonês, e chamada de Kyokujitsu-ki.

O grupo atraiu jovens e conservadores mais brandos que ficaram órfãos da era Shinzo Abe, ex- Primeiro Ministro morto em 8 de Julho de 2022, vítima de um homicídio em plena luz do dia durante um evento.

“O PLD abriga correntes que vão da extrema direita ao centro-esquerda. O Sanseito ocupa o espaço deixado por Abe e com sua morte, conservadores nacionalistas passaram a apoiar o Sanseito” - comenta a pesquisadora francesa Valérie Niquet, da Fundação para a Pesquisa Estratégica, em entrevista a agência de notícias RFI de seu país.

Além da promoção da xenofobia e preconceito contra estrangeiros, o Sanseito tem como um dos princípios a revisão das regras de vacinação e descarbonização, ou políticas ambientais.

“Caso o PLD de Ishiba fique em minoria no Parlamento do Japão, corre-se o risco de haver a perda do mandato, situação inédita desde a Segunda Guerra Mundial” – declara Toru Yoshida, Professor de Ciência Política na Universidade Doshisha.

O atual partido está no poder desde 1955 quase que de forma contínua, sobrevivendo com mudanças de liderança ao longo dos anos.

Fonte: AFP (França)