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A utopia dos Direitos Humanos

  • Categoria: Politica e Sociais
  • Publicação: 20/06/2025 22:43
  • Autor: Ricardo Lessa

A utopia dos Direitos Humanos


    É hora da ONU retomar seu protagonismo. A conclamação do presidente Lula na reunião do G7 mereceu poucos comentários na imprensa. As gafes e tropeços verbais ganharam muito mais espaço. Mas de fato, a ONU, essa instituição tão difamada especialmente pelos atuais mandatários dos Estados Unidos e Israel, precisaria retomar seu protagonismo. 


    Criada num raro momento em que todos os países do mundo estiveram de acordo, após a catástrofe mundial da Segunda Guerra, é o único fórum existente de convivência entre os distintos modelos ideológicos e políticos adotados pelas nações desde então. A outra alternativa é o modo selvagem da lei do mais forte, com roupagem tecnológica e mais cruel.

    

    A negociação diplomática tem sempre um ranço de lentidão e burocracia, mas, foi o que a dita civilização conseguiu em seus milhares de anos de guerras e crueldades. Sobre a  diplomacia pode-se dizer o mesmo que Churchill disse sobre a democracia: é a pior maneira, excetuando todas as outras.

    

    Curioso é que se repita a ladainha dos conservadores sobre a inutilidade da ONU por alguns ilustrados. Trump & Cia tiram recursos da ONU e depois acusam-na de inoperante. É possível que a organização tenha inchado além das medidas desde dos anos 40 até hoje, como é próprio das burocracias. Os países membros poderiam torná-la mais eficiente e não o inverso. O exemplo de crítica à ONU mais curioso é do atual dirigente do estado de Israel, país que só passou a existir depois de uma resolução da ONU.

    

    Os capacetes azuis, soldados que servem nas missões de paz, são ironicamente apelidados de United Nothing. De fato, em relação à selvageria da guerra muitas vezes não fizeram muita coisa. Mas eram os selvagens ou os pacifistas que tinham razão. E no Haiti, não foi importante a missão da ONU? No Congo, também foi valiosa. Mas é muito banal desprezar algo tão raro construído pela humanidade. A Segunda Guerra parece distante, mas tem apenas duas gerações de distância, perguntem a seus avós. Vejam nos filmes. Os horrores que essa mesma humanidade foi capaz estão ao alcance de qualquer um e não devem ser ignorados. Claro que  há quem prefira a ignorância. Sobre esses não há o que fazer.


    O presidente Lula merece, então, o aplauso de todos os humanistas. Foi na criação da ONU que todos os países assinaram e se comprometeram com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, com os fundamentos do humanismo, com os pilares do que chamamos humanidade. Na primeira linha, se reconhece “a dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis”.

Surpreendentemente, alguns autores modernos se declararam fora da “humanidade”, excluem-se sob a alegação de que não foram considerados na Declaração, recusam previamente a inclusão na “família humana”. Devemos repartir, discriminatoriamente, esse conjunto? Não seria morder a isca com anzol e tudo lançada pelos conservadores? Algum grupo humano merecerá privilégios em relação a outro? Não será o momento para os humanistas juntarem forças?


    É hora da ONU retomar seu protagonismo, como disse o presidente Lula. Mas será preciso contornar o beco sem saída da confrontação entre americanos e israelense, de um lado, e chineses e russos de outro. Essa infindável queda de braço que tem levado a paralisia da organização. Será uma utopia voltar aos tempos em que Estados Unidos, China e Rússia (então União Soviética assinavam um mesmo documento? Será necessário mais uma catástrofe humana para chegarem a conclusão que a humanidade e o planeta são o mesmo para todos? Parafraseando Cazuza: Utopia, quero uma pra viver!