Projeto Especial da São Paulo Escola de Dança estreia "Rostos de Janus” na Estação CCR das Artes
Diversas apresentações também estão programadas em todo o Estado até o final do ano
- Categoria: Dança
- Publicação: 30/05/2025 12:56
- Autor: Elara Leite

Rostos de Janus” aborda a dualidade humana. Foto: Silvia Machado
A São Paulo Escola de Dança, vinculada à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, sob a gestão da Associação Pró-Dança e direção artística e educacional de Inês Bogéa, estreia “Rostos de Janus”, nos dias 30 e 31 de maio, às 19h, na Estação CCR das Artes, equipamento que faz parte do Complexo Cultural Júlio Prestes. O espetáculo, com coreografia de Vinícius Anselmo, é protagonizado pelos estudantes do Projeto Especial da SPED. A noite se completa com “E Assim Foi…”, de Anselmo Zolla, e a entrada é gratuita. Os ingressos estão sendo distribuídos neste link.
A obra mergulha na complexidade da identidade e do pertencimento, inspirando-se na figura mitológica de Janus e em teorias filosóficas e psicológicas sobre a dualidade entre o eu interior e o exterior. A coreografia alia mitologia e psicologia para investigar como a multiplicidade de papéis e personas molda a experiência humana. Janus é uma figura central na mitologia, representando o deus das mudanças, transições, começos e fins, e é frequentemente descrito com duas faces, uma que olha para o futuro e outra para o passado, simbolizando o dualismo inerente à existência. Já na psicanálise, pode ser interpretado como um arquétipo que representa a dualidade da mente humana, a capacidade de olhar tanto para o passado, quanto para o futuro, e de lidar com a tensão entre eles. Utilizando a técnica da dança contemporânea em diálogo com elementos clássicos e modernos, a obra incorpora conceitos de pensadores como Jacques Lacan (1901-1981) e Carl Jung (1875-1961) para traduzir ideias profundas por meio do movimento.
“Rostos de Janus” convida o público a refletir sobre a multiplicidade interna de cada indivíduo e as formas como diferentes facetas do eu se manifestam e se conectam no convívio coletivo. Vinícius Anselmo pontua que coreografar “Rostos de Janus” foi uma experiência intensa e prazerosa. “Fiquei impressionado com o envolvimento e a paixão dos jovens estudantes da SPED, que mergulharam na criação. Foi um processo coletivo, em que cada um contribuiu com sua potência e história. A obra fala sobre dualidades — sentimentos opostos, tempos que se cruzam, o passado e o futuro convivendo num mesmo corpo. É sobre reconhecer que somos feitos de contrastes, e que isso nos fortalece como grupo e como indivíduos. Abraçamos o processo com entrega coletiva e construímos a obra com dedicação e presença”, afirma Vinicius.
A trilha sonora foi especialmente composta pelo instrumentista André Mehmari. “O tema central da música é a busca por um equilíbrio entre o piano acústico e a eletrônica. Toda a base da composição é sustentada pelo piano — único instrumento utilizado, tocado por mim —, mas esse som é transformado por meio de pedais, processamentos e intervenções no computador. O desafio foi justamente o de encontrar um ponto de equilíbrio entre essas duas forças, que muitas vezes parecem contrastantes. Também busquei criar momentos de forte contraste: trechos mais contemplativos e outros mais rítmicos, oferecendo ao coreógrafo uma paleta rica de possibilidades para a criação do movimento,” explica Mehmari.
No início do espetáculo, todos os bailarinos usam paletós pretos, indicando uma massificação dos indivíduos, e máscaras na nuca, para simbolizar a dualidade dos opostos. Durante a coreografia, eles vão tirando os paletós, como que se libertando de uma massificação em busca de uma individualidade. O conceito do figurino foi pensado pelo conceituado Fábio Namatame a partir da individualidade de cada bailarino. “Tentamos trazer uma personalidade e ao mesmo tempo uma neutralidade, para desenvolver estes personagens em busca de transformação e pertencimentos. As linhas são simples, com cores claras em tons de craft. Usamos materiais diversos para trazer o universo mais cotidiano e plural para esta coreografia”, indica o figurinista.
O projeto de iluminação de Marcel Rodrigues enfatiza a dualidade do tempo — passado e futuro coexistindo num mesmo corpo, em dois rostos, duas visões, ou seja, a luz como um portal de transição, revelando camadas de tempo, identidade e movimento. “Usamos contrastes entre cores quentes e frias, luz e sombra, diferentes texturas, criando uma atmosfera em que as diferenças coexistem no mesmo espaço. É uma luz que potencializa o ambiente e amplia a dramaturgia, ajudando a contar a história e a fortalecer a mensagem do movimento”, observa o iluminador.
A obra ainda poderá ser vista em diferentes locais, como o Masp, durante a Semana Paulista de Dança, na Fábrica de Cultura de Brasilândia, na Capital, e também no interior do Estado, em cidades como Bauru e Diadema.
E ASSIM FOI…. | A noite se completa com “E Assim Foi…", de Anselmo Zolla, também criada especialmente para o Projeto Especial da SPED. Com dramaturgia assinada por Andrea Cavinato, a coreografia é uma fábula contemporânea que apresenta dois grupos de seres humanos que habitam a grande floresta e, a partir do encontro de jovens, um de cada grupo, rompem-se tabus, interditos e tradições de seus respectivos círculos sociais, aproximando as duas comunidades. As descobertas de suas diferenças e semelhanças ocorrem em etapas, na alternância dos ciclos de suas rotinas, festas e rituais. A aproximação dos grupos os faz esquecer dos medos impostos e, ao se tocarem, acontece a grande transformação.
A trilha sonora de Joaquim Tomé com locução de Tuna Duwek serve como fio condutor da coreografia em formato de prosa poética musicada, oferecendo uma perspectiva que tem o intuito de pontuar os personagens no desenvolvimento da história, criando o reconhecimento sobre os dois grupos que se encontram e se descobrem. A obra traduz em movimento a essência de diferentes vivências e tradições que coexistem e se transformam no encontro com o outro.
“Apresentar esses dois trabalhos na Estação CCR das Artes é uma oportunidade valiosa de ampliar os horizontes formativos dos nossos estudantes e, ao mesmo tempo, de aproximar o público da potência criativa destes movimentos. ‘Rostos de Janus’ e ‘E Assim Foi…’ são obras que refletem, cada uma à sua maneira, questões fundamentais sobre identidade, convivência e transformação — temas que dialogam diretamente com o espírito do nosso tempo", fala Inês Bogéa, diretora artística e educacional da São Paulo Escola de Dança.
ENSAIOS ABERTOS | Antes da estreia, “Rostos de Janus” será apresentado em dois ensaios abertos, seguidos por rodas de conversa com o coreógrafo Vinícius Anselmo e a diretora artística e educacional da SPED, Inês Bogéa. Os eventos acontecem no sábado, 24, das 9h30 às 10h30 e das 11h às 12h, ambos na sede da São Paulo Escola de Dança. “Sentido de Pertencimento” é o tema que permeia os encontros. A participação é gratuita mediante inscrição neste formulário.
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“Rostos de Janus” é um projeto contemplado na Política Nacional Aldir Blanc, via edital Fomento CultSP PROAC Nº23/2024 — Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas.
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PROJETO ESPECIAL | Dentre as ações desenvolvidas pela São Paulo Escola de Dança, destaca-se o Projeto Especial, formado por estudantes dos Cursos Regulares, selecionados por meio de edital próprio, que vivenciam a formação do grupo a cada semestre como bolsistas. Essa iniciativa objetiva a inserção dos estudantes no mundo do trabalho por meio de coreografias próprias do repertório da escola para a participação em eventos extraordinários às atividades curriculares. A rotina do grupo consiste em uma série de ensaios e encontros contínuos, acompanhados por um docente — ou profissional da dança convidado, em processos de montagens específicas para apresentações.
Além de “Rostos de Janus” e “E Assim Foi…", o grupo já protagonizou o espetáculo “Cartas de Amor", composto por cinco coreografias, de cinco diferentes artistas — Claudia Palma, Vinícius Anselmo, Kátia Barros, Sérgio Rocha e Leilane Telles —, uma obra que aborda o reconhecimento de si diante da partida de uma pessoa amada. O programa é composto por: “Mergulho”, de Sérgio Rocha; “Lamento de Orfeu”, de Kátia Barros; “O Último Beijo”, de Vinícius Anselmo; “Aqua”, de Cláudia Palma; e “O Samba de Orfeu”, de Leilane Teles.
Entre os espaços de apresentações, destacam-se aberturas de espetáculos da São Paulo Cia. de Dança em Fábricas de Cultura e apresentações no Masp.
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Serviço:
Estreia: Dias 30 e 31 de maio, às 19h, na Estação CCR das Artes, Complexo Júlio Prestes - Praça Júlio Prestes, 16, Campos Elíseos. Ingressos pelo site da Sala São Paulo.
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SÃO PAULO ESCOLA DE DANÇA
Criada por meio do Decreto Estadual nº 66.412/2021, a São Paulo Escola de Dança é uma instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, gerida pela Associação Pró-Dança e dirigida por Inês Bogéa, doutora em artes, bailarina, documentarista, escritora e professora. A SPED é uma instituição comprometida em dar voz e espaço consistente para a reflexão, o aprendizado e a troca de saberes a partir da especificidade da dança interligada com todas as linguagens artísticas com foco na valorização da pluralidade. Seu objetivo é o de proporcionar a construção do conhecimento no campo da dança, entendendo a diversidade de corpos e estéticas como premissas da formação e profissionalização dos estudantes a fim de ampliar a possibilidade de sua inserção no mercado de trabalho. A estrutura pedagógica tem 4 eixos de atuação: Cursos Regulares, que têm como objetivo oferecer formação em caráter técnico; Cursos Livres, que promovem o acesso à linguagem da dança para a população em geral; Cursos de Extensão Cultural, que contribuem para a criação, produção e discussão da dança; Oportunidades e Projetos Especiais, que possibilitam ações afirmativas e de permanência a estudantes de baixa renda e/ou em vulnerabilidade social.
DIREÇÃO ARTÍSTICA E EDUCACIONAL | INÊS BOGÉA
Inês Bogéa é uma líder multifacetada na dança e na educação, com vasta experiência na gestão, criação e implementação de projetos culturais, sociais e educacionais de grande impacto. Desde 2008, atua como diretora artística da São Paulo Companhia de Dança, criada pelo Governo do Estado de São Paulo, onde já dirigiu mais de 1.300 espetáculos em 20 países e recebeu 8 prêmios, certificações e indicações nacionais e internacionais. É diretora artística e educacional da São Paulo Escola de Dança, criada pelo Governo do Estado de São Paulo, que se destaca pela inclusão social e formação de mais de 1.300 estudantes, sendo 50% oriundos de vulnerabilidade social. Colaboradora regular em veículos como a Revista Concerto, é cocriadora da coluna 'Dança em Diálogo'. Na área acadêmica, leciona na USP e na FURB. Foi responsável por iniciativas inovadoras, como o curso Dança para Educadores do Sesc-SP e a Mostra Internacional de Dança de SP, em parceria com o Itaú Cultural. Reconhecida com a Medalha Tarsila do Amaral, foi também nomeada pela Critic's Choice of Dance Europe e condecorada com o título de Chavalière de L'Ordre des Arts et des Lettres pelo Ministério da Cultura Francês.
ESTAÇÃO CCR DAS ARTES
A Estação CCR das Artes — equipamento que faz parte do Complexo Cultural Júlio Prestes — é gerida pela Fundação Osesp, organização social de cultura que mantém contrato de gestão com o Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo. O novo espaço cultural, inaugurado em 25 de janeiro de 2025, foi pensado para receber diferentes expressões artísticas, entre músicas clássica e popular, dança, teatro, literatura e cinema, além de atividades educacionais e socioculturais. A Estação CCR das Artes tem o objetivo de reforçar o compromisso da Fundação Osesp em atuar como um reflexo da sociedade plural e dinâmica em que vivemos, e fortalecer toda a cadeia de pessoas que experienciam ou vivenciam o que oferecemos. A transformação deste patrimônio histórico em sala de espetáculos foi feita graças à parceria da Fundação Osesp com o Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas, e com o Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A manutenção pelos próximos três anos acontece graças ao patrocínio institucional do Grupo CCR, também pela Lei Federal de Incentivo à Cultura.
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