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Os 10 Melhores Filmes dos Anos 90

  • Categoria: Cinema
  • Publicação: 12/05/2025 15:39
  • Autor: Ricardo Corsetti
1) "Vício Frenético" (Bad Lieutenant - 1992), Dir. Abel Ferrara.

Sem dúvida, há filmes bem mais inovadores, tanto do ponto de vista narrativo, quanto temático, realizados ao longo da década de 90. Porém, para mim, nada supera a crueza, amoralidade e total desesperança que caracterizam este filme. Roteiro co-escrito por Abel Ferrara e Zoe Lund (1962-1999), sim a bela e talentosa protagonista do igualmente ótimo "Sedução e Vingança" (1981). Destaque também para a monstruosa (no melhor sentido do termo) atuação de Harvey Keitel, como o insano e literalmente movido a pó, tenente de polícia que protagoniza a trama.
Prime Video: Bad Lieutenant

2) "Pulp Fiction - Tempo de Violência" (1994), Dir. Quentin Tarantino.
Pouco tempo após dirigir o inovador "Cães de Aluguel" (1992), Tarantino realizaria sua obra-prima, merecidamente premiada com a Palma de Ouro no Festival de Cannes daquele ano. "Pulp Fiction" apresentou uma série de inovações narrativas, personagens carismáticos e diálogos espirituosos. Obs: é verdade que roteiros que trabalham pequenas tramas paralelas que se cruzam no decorrer da narrativa, já existem desde "O Homem Leopardo" (1943) de Jacques Tourneur; mas não com a mesma fluência, eficácia e contexto pop que vimos aqui. Destaque também para a excelente trilha sonora que vai desde um tema executado pelo Rei da surf music instrumental Dick Dale, até a praticamente desconhecida até aquele momento, versão de "Girl, You'll Be A Woman Soon", executada pela banda Urge Overkill. 
Pulp Fiction – Wikipédia, a enciclopédia livre
3) "Pânico" (Scream - 1996), Dir. Wes Craven.
Após revitalizar o subgênero Slasher com o excelente "slasher sobrenatural" de "A Hora do Pesadelo" (1984), pouco mais de uma decisão depois, Craven, novamente, daria uma nova cara ao subgênero, ao criar o "teenager slasher", com o já mais do que clássico "Pânico" (1996), filme caracterizado por um roteiro bem acima da média, para os padrões do Slasher (escrito por Kevin Williamson). Afinal, o famigerado "Ghostface" (assim como Fred Krueger) já faz parte do inconsciente coletivo de qualquer sujeito que já tenha, no mínimo, passado dos 40 anos, chegando, inclusive, a inspirar o nome de um certo programa televisivo, aqui no Brasil.
Pânico | Dublapédia | Fandom

4) "A Teta e a Lua" (La Y La Luna - 1994), Dir. Bigas Luna.
Sem dúvida, um dos melhores trabalhos do diretor espanhol (Bigas Luna) que teve mesmo seu ápice criativo, em meados dos anos 90. Obs: o cinema de  Luna, em grande parte, é um delicioso misto de sátira e, ao mesmo tempo, ode ao machismo tipicamente latino. Em "A Teta e a Lua" (1994), filme que encerra a chamada "Trilogia Ibérica", composta também pelos igualmente ótimos "Jamón, Jamón" (1992) e "Ovos de Ouro" (1993), o diretor/roteirista, desenvolve uma questão, praticamente impossível de ser retratada/abordada num filme contemporâneo, graças ao neo-puritanismo cego e castrador, hoje vigente no cinema internacional: o desabrochar da sexualidade infantil, na figura do simpático garoto "Tete". Destaque também para a overdose de símbolos fálicos (característica do cinema do saudoso Bigas Luna) presentes ao longo do filme, tais como, por exemplo, a cena da pirâmide humana que abre o filme, sendo escalada pelo garotinho, enquanto seu pai grita, lá embaixo: "Cojones, cojones", como forma de incentiva-lo a chegar ao topo da referida pirâmide. Simplesmente, impagável, rs.
A Teta e a Lua - Filme 1994 - AdoroCinema

5) "Traídos Pelo Desejo" (The Crying Game", 1992), Dir. Neil Jordan.
Co-produção anglo-irlandesa, que conta com as excelentes atuações de Stephen Rea (protagonista), Forest Whitaker e do então estreante Jaye Davidson, como a bela e enigmática "Dil". Excelente roteiro, inclusive, pioneiro no sentido de abordar questões de gênero e temática LGBT, numa época em que tais questões, ainda não haviam sido incorporadas como mera demanda de mercado a serem atendidas, sob a hipócrita farsa da "inclusão". Obs: destaque para a excelente fábula do escorpião e da tartaruga, sim, aquela do "faz parte da minha natureza", contada diversas vezes, ao longo da trama.
Traídos Pelo Desejo - Papo de Cinema

6) "Fome Animal" (Braindead - 1992), Dir. Peter Jackson.
Se, por um lado, "Pânico" de Wes Craven, revitalizou o dinheiro Slasher, sem dúvida, o impagável "Fome Animal" de Peter Jackson, elevou a um novo patamar técnico, o subgênero Trash e, de quebra, revitalizou o clássico "filme de zumbis". Após realizar, em 1987, o divertidíssimo "Náusea Total" (Bad Taste), já em 1992, o diretor neozelandês Peter Jackson realizou aquela que é, para mim, sua obra-prima: "Fome Animal". Obs: sinceramente, para mim, essa fase "orgânica" de Jackson, é bem mais interessante que a megalomania da saga "Senhor dos Anéis"...
Fome Animal - Filme 1992 - AdoroCinema

7) "Daens - Um Grito de Justiça" (1992), Dir. Stijn Coninx.
Produção franco-belga que é, praticamente, a cinebiografia do padre belga Adolf Daens que, na segunda metade do século XIX, em meio à Revolução industrial, se tornou um grande desafeto para os industriais de seu país, por se opor de forma veementemente, às injustiças e à brutal exploração de operários, numa época em que leis trabalhistas, ainda eram apenas um sonho... Não por acaso, a figura do padre Daens ficou associada ao chamado "socialismo cristão". Obs: infelizmente, nunca vi essa jóia preciosa, na tela do cinema; apenas conheci este ótimo filme, graças ao meu saudoso professor de história, Maurício que, na época em que eu cursava Ciências Sociais na PUC-SP, o exibiu, durante uma aula, em VHS.
Daens - Um Grito de Justiça - Filme 1993 - AdoroCinema

8) "Mamãe É De Morte" (Serial Mom - 1994), Dir. John Waters.
Genial trabalho do "Papa do Trash Movie", John Waters em momento "mainstream". É simplesmente genial a forma como John Waters (diretor e roteirista) previu, com precisão, nesta impagável comédia que beira o subgênero "Terrir", aonde poderia chegar, décadas depois, a perigosa cultura do politicamente correto que, mais recentemente, evoluiu (ou involuiu) para o neo-puritanismo cancelador contemporâneo. Obs: destaque para a espetacular e divertidíssima atuação de Kathleen Turner como protagonista que, sem a menor dúvida, caso o caretíssimo Oscar não tivesse um histórico preconceito em relação à Comédia, deveria receber, no mínimo, uma indicação ao prêmio naquele ano.
Mamãe é de Morte - Filme 1994 - AdoroCinema

9) "Despedida em Las Vegas" (Leaving Las Vegas - 1995), Dir. Mike Figgis.
Belíssimo drama dirigido pelo hoje, praticamente desaparecido, diretor britânico Mike Figgis, também autor do ótimo "Justiça Cega" (1992) e brilhantemente estrelado por Nicolas Cage (na época em que ele ainda era um ator de verdade) e pela bela e talentosíssima Elisabeth Shue, naquele que é, simplesmente, o papel de sua vida. Obs: destaque também para a belíssima trilha sonora na linha do pop jazz, composta pelo próprio Figgis e maravilhosamente executada por Sting.

Despedida em Las Vegas (1995) - IMDb

10) "Os Idiotas" (Idioterne - 1998), Dir. Lars Von Trier.
Filme inaugural do movimento "Dogma 95", ao lado de "Festa de Família" (1998) de Thomas Vinterberg. Polêmico filme do sempre polêmico diretor dinamarquês, Lars Von Trier, realizado com orçamento e estrutura mínima de produção, sobre um grupo de intelectuais anti-burgueses que, como forma de se opor ao comportamento social vigente, se "idiotizam" voluntariamente.

Os Idiotas - Filmin

Pela quantidade de títulos selecionados (4 no total), realizados em 1992, concluo que 1992, foi mesmo um ano excepcional para a história do Cinema, rs.

O grande Harvey Keitel, está presente em dois filmes presentes nesta seleta lista. E até poderia estar em mais, visto que "Cães de Aluguel" (1992) do qual ele também participa, mereceria, no mínimo, estar presente na sessão "menção honrosa".
E por falar em "menção honrosa", eu realmente pensei em fazer uma sessão com essa categoria, para ao menos mencionar os ótimos filmes (do mundo todo, aliás) que não entraram na seleta lista dos 10 mais. Porém, seria preciso listar uma infinidade de títulos: franceses, espanhóis, iranianos, japoneses, israelenses, alemães, indianos, brasileiros, é claro, e por aí vai...