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"A Banda Épica na Noite das Gerais"

  • Categoria: Música
  • Publicação: 18/02/2025 16:16
  • Autor: Marli Durant/Agência de Notícias M São Paulo
Fui assistir a "A Banda Épica na Noite das Gerais" com a expectativa de ver um teatro que desafiasse o presente ao revisitar o passado. No palco, uma banda de rock dos anos 70, perdida no interior de Minas Gerais, se depara com a repressão da ditadura militar. Um enredo que soa promissor: arte contra opressão, música como resistência. Mas saí do teatro me perguntando se a história era realmente uma reflexão sobre autoritarismo ou apenas um fetiche romântico sobre tempos de revolta.
Freud diria que estamos sempre buscando simbolizar traumas coletivos, e talvez seja isso que a peça tente fazer. Uma sublimação do desejo de liberdade travestida de nostalgia rockeira.
Mas não posso deixar de pensar em Lacan, que veria ali um teatro do simbólico, uma estrutura discursiva que tenta falar do real, mas se perde na própria linguagem. A banda resiste à ditadura ou apenas se move dentro dela, sonhando ser livre enquanto cumpre um roteiro previsível de rebeldia?
Poderia Adorno entrar nessa discussão? Ele nos diria que a cultura pop pode tanto ser subversiva quanto absorvida pelo sistema que ela critica. E talvez seja essa a questão central da peça: até que ponto a arte realmente resiste e quando se torna um círculo vicioso de memóriasdomesticadas?
Na saída do teatro, fiquei com a sensação de que *A Banda Épica* quer ser um manifesto, mas acaba sendo mais um lembrete de como a rebeldia pode ser transformada em produto. Talvez a verdadeira resistência não esteja no palco, mas naquilo que ainda não conseguimos encenar. Oparadoxo da arte é que, ao se tornar discurso, pode perder seu potencial de transformação. A rebeldia, afinal, resiste mais na ação do que na representação.