Espelhos de dois deuses
- Categoria: Literatura
- Publicação: 13/02/2025 12:03
- Autor: Professor André Cisi

Joaquim
Maria Machado de Assis (1839 – 1908) nasceu e viveu todos os seus anos no Rio
de janeiro, quando esta era a capital do Brasil. Fez parte das chamadas escolas
Romântica e Realista. Este talentoso escritor recebeu a alcunha de Bruxo do
Cosme Velho e é considerado por muitos estudiosos e gramáticos como o maior
escritor brasileiro de todos os tempos.
João
Guimarães Rosa (1908 – 1967) chegou quando Machado partiu, e nasceu em Cordisburgo,
Minas Gerais. Médico, poeta, ensaísta, contista, diplomata, novelista e
romancista, em resumo, um grande intelectual. A exemplo de Assis, Rosa também
pode ser considerado um dos maiores escritores brasileiros de todas as épocas.
Assis, com seus escritos marcou o século XIX e Rosa semelhantemente, o século
XX.
Uma
interessante semelhança é que ambos intitularam contos com o mesmo nome – “O
Espelho”.
Machado
escreveu o conto “O Espelho” em 1882, como parte da coletânea “Papéis Avulsos”.
Guimarães Rosa produziu seu conto “O Espelho” em 1962, em seu livro “Primeiras
Estórias”.
Uma
boa sugestão a quem pretende lê-los é que o faça imediatamente um após o outro,
de preferência, com papel e caneta para anotações e reflexões e se possível
mais de uma leitura em cada um. Como são textos curtos, então não demanda muito
tempo.
Ambos
os contos são considerados clássicos de nossa literatura e exploram temas
relacionados à identidade, memória, condição humana e principalmente à alma.
Em
Machado a história gira em torno do protagonista, Joãozinho Jacobina, que
recebe em seu quarto, um grande espelho, obra rica e magnífica de sua tia
Marcolina. A chegada deste “personagem”, Jacobina faz reflexões da crença na
existência em duas almas na criatura humana, uma que olha de dentro para fora e
outra que olha de fora para dentro, ao imaginar os mistérios que um espelho
pode oferecer.
Em
Rosa a ideia de análise do Espelho, ele afirma:
“Quando
nada acontece, há um milagre que não estamos vendo” e prossegue...
“Mas
– que espelho? Há os bons e maus, os que favorecem e os que detraem (...) os
olhos por enquanto, são a porta do engano...”
E
ainda cita os tipos de espelhos estudados em Física (planos, côncavos, convexos
e parabólicos) e outros que poderão ser descobertos e que ainda não existem.
Quase
no fim do conto Guimarães Rosa, ainda nos reserva mais essa:
“O
Espelho inspirava receio supersticioso aos primitivos, aqueles povos com a
ideia de que o reflexo de uma pessoa fosse a alma (...) É a superstição fecundo
ponto de partida para a pesquisa. A alma do espelho, outros identificavam a
alma com a sombra do corpo”.
Nossa
gratidão a esses dois imortais de nossa literatura.
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