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Análise do filme Argentina 1985

Uma obra-prima biográfica do cinema argentino, história necessária pra memória pra não repetir os erros
  • Categoria: Critica de Filmes
  • Publicação: 27/12/2024 00:59
  • Autor: André Luiz Brandão Cisi

Dirigido e escrito por Santigo Miltre, é uma obra necessária sobre o genocídio da ditadura militar argentina, cuja 9 comandantes foram a julgamento militar pelos crimes da ditadura.

Ricardo Darín faz o Promotor Julio César Strassera e o jovem promotor adjunto Luis Moreno Ocampo que são os responsáveis pelo julgamento dessa ditadura.

Enquanto Ocampo de família é mais motivado, Strassera tem medo, mas quer sim fazer o certo, ameaças contra os promotores acontecem, e muitas coisas das famílias dos promotores são contadas.

O filho de Strassera ajuda ele com informações, a mãe de Ocampo é contra o trabalho do filho, ela apoia o lado da ditadura.

Porém spoiler necessário, a mãe de Ocampo se redimi ao perceber a crueldade dos atos violentos praticados por militares.

Nesse filme diversos sentimentos me tocam, eu me indigno, eu choro e eu vibro.

Frases marcantes

Ao começar pelo Discurso de Strassera no julgamento

A violência imperava no país, quando três dos réus decidiram, mais uma vez,
em nome das Forças Armadas, tomar o governo à força, desprezando o desejo do povo.

E qual foi a resposta do Estado, após este golpe, à guerrilha subversiva? Para descrevê-la, senhores juízes, me bastam três palavras. Feroz, clandestina e covarde.

As guerrilhas sequestraram e mataram. E o que o Estado fez para combatê-las? Sequestrou, torturou e matou em uma escala infinitamente maior. E, o que é pior, à margem de qualquer sistema jurídico.

E disso derivaram, senhores juízes, consequências muito mais graves.

Quantas vítimas da repressão eram culpadas de atividades ilegais? Quantas eram inocentes? Nunca saberemos, e não por culpa das vítimas.

A eliminação do processo judicial causou uma verdadeira subversão jurídica. Denúncias foram substituídas por acusações. Interrogatórios, por tortura. E a sentença foi embasada no gesto neroniano do dedão para baixo.

Dentre as muitas dívidas que este sistema covarde contraiu com a sociedade argentina, existe uma que não pode mais ser saldada.

Gostaria de dizê-la. A falta de sentença judicial não é a omissão de uma formalidade. É uma questão vital de respeito à dignidade da humanidade. Seu abandono provocou o seguinte.

Uma pessoa foi sequestrada por fazer parte da FAP. Forças Armadas Peronistas. Mas ela fazia parte da FAP, Federação Argentina de Psiquiatras.

Alguém tinha o direito de deixar Adriana Calvo de Laborde dar à luz algemada, vendada, no banco traseiro de uma viatura, deitada no chão, sem poder abraçar a filha?

“Não aceitaremos que a morte vague pela Argentina. Vagarosamente, para não notarmos, uma máquina de horror liberou sua imoralidade sobre os desavisados e os inocentes.” Este foi o testemunho do almirante Emilio Eduardo Massera em 2 de novembro de 1976, na Escola de Mecânica da Marinha.

Naquele dia, na sede da Esma, deitada em um tapete, estava Cecilia Inés Cacabelos. Ela tinha 16 anos. Ela estava vendada, algemada e acorrentada. Ela tinha sido capturada graças à informação dada pela irmã, que acreditava que fossem apenas interrogá-la. Ela achou que fosse salvar a vida dela. Cecilia Inés Cacabelos, ainda hoje, está desaparecida.

Mas adotemos agora a teoria da guerra, tão repetida pelos réus.

Podemos considerar o sequestro de indefesos, ao amanhecer, por gangues anônimas, um ato de guerra?

É um ato de guerra torturá-los e matá-los se não ofereceram resistência?

É um ato de guerra ocupar lares e fazer famílias de reféns?


Surge a frase inteligentissima :

Este julgamento e a sentença que proponho buscam estabelecer uma paz baseada não no esquecimento, mas na memória. Não na violência, mas na justiça.



E quando vem a frase que eu dou pulos de alegria:

Senhores juízes, quero renunciar expressamente a toda pretensão de originalidade para este encerramento. Quero usar uma citação que não pertence a mim, porque já pertence a todo o povo argentino. Senhores juízes: “Nunca mais”.”



Exibido no festival de Veneza, filme foi indicado ao Oscar e Bafta de Filme Estrangeiro em 2023.

Tem música no filme da banda los abuelos de la nada.

Uma obra mais que necessária e história, tem que ser assistida, a história tem que ser contada.

Que filmaço

Do streaming da prime video