A FELICIDADE NÃO SE COMPRA:
SETE DÉCADAS DE UM CLÁSSICO NATALINO
- Categoria: Critica de Filmes
- Publicação: 23/12/2024 13:40
- Autor: Marcus Hemerly

“Estranho,
não é? A vida de cada homem toca tantas outras vidas. Quando ele não está por
perto, ele deixa um buraco horrível, não é?”
It´s
a Wonderful Life
A
Felicidade não se compra “ It´s a Wonderful Life, 1946.
Então é natal… e a programação
televisiva – nos tempos modernos, os inúmeros serviços de streaming - descortinam uma robusta programação de filmes
natalinos, não raro, reprises nem um pouco desconhecidas ao público. Por vezes,
nos deparamos com algum dos títulos da franquia “Esquecerem de Mim”, ou mesmo,
dos mais variados gêneros: ação, com “Duro de Matar”, “Máquina Mortífera”;
comédias e romances, como “Simplesmente Amor” ou “Férias Frustradas de Natal”,
“Gremlins”, e até mesmo com um ou outro slasher
cult como “Noite do Terror”.
Como que hipnotizados, rendemo-nos à
nostalgia a fim de, por mais uma vez, rever aqueles títulos que nos remetem a
uma confortável e aprazível memória afetiva. No entanto, um espaço especial
sempre será reservado à apaixonante história retratada no clássico “A
Felicidade Não se Compra”, de 1946, estrelado por James Stewart, com direção do
festejado Frank Capra. A popularidade dos filmes de Capra, italiano nascido
Francesco Rosario, faziam com que a atração do público fosse captada pelo fato
de ser uma película de Capra, até mais do que pelos protagonistas. É ele o
idealizador de obras-primas como “Aconteceu Naquela Noite” e “A Mulher Faz o
Homem”, condição que ensejou a autobiografia de 1971, intitulada “O Nome Acima
do Título”.
Nesse
passo, em A Felicidade não se Compra, (It´s
a wonderful life), o bondoso George Bailey, interpretado por Stewart, pensa
em cometer suicídio após as trapaças do venenoso Sr. Potter, vivido pelo
magistral Lionel Barrymore, quando um espírito candidato a anjo de nome
Clarence (Henry Travers), é enviado do céu para dissuadi-lo de seu intento.
Como ele se desincumbe da missão? Mostrando como seria o mundo caso Bailey não
existisse, quase num processo de tratamento de choque acerca de sua importância
como pessoa no mundo, e especialmente, para seus entes queridos.
Tocantes, sensíveis e lúcidas lições
de vida se desdobram na clássica e emocionante trama que derivou várias
produções ao estilo “que falta você faria?”, que desperta, não apenas uma
reflexão que pode ser reinventada e repensada a cada vez que se assiste ao
filme, mas também trata-se do verdadeiro cinema em sua melhor forma. Assim como
Billy Wilder, outro popular gênio cujo nome também merece suplantar o título,
apresenta-se ao time, James Stewart, a personificação do homem comum e ético
para o público, como uma versão mais inocente, porém igualmente sagaz do amado
personagem de Gregory Peck em “O Sol é Para Todos”, Atticus Finch.
Ao tempo de seu lançamento - 20 de
dezembro de 1946 - o filme que completa setenta e cinco anos não foi um grande
sucesso de bilheteria e crítica. Algumas das resenhas rotularam a história de
pueril e simplória, quadro diverso das produções de Capra até então. No
entanto, o tempo altera o modo como os filmes são contextualizados e, até
mesmo, redescobertos. Atualmente, “A Felicidade Não Se Compra”, é considerado
um de seus melhores filmes e o absoluto “clássico natalino”, permanecendo
mágico e mais emocionante a cada sessão.
Por óbvio, em tempos de modernidade líquida,
cenário que desdobra um pessimismo e desesperança diante do desconhecido, o
tempo de natal não se apresenta tão convidativo como em épocas passadas; mas
tal como a lição do “candidato a anjo” Clarence, e também imbuída em outras
produções natalinas, se não há esperança, o que mais restará? Escolha um bom
filme e esqueça dos pesares cotidianos. Eles não farão com que os problemas
desapareçam, inclusive, nem é pertinente o cerrar de olhos para as
vicissitudes, mas o cinema sempre estará disponível para aperfeiçoar sua função
primordial. Não um mero escapismo momentâneo, mas fonte indutora de emoções,
reflexões e, até mesmo, inspiração…
Leia Mais




