"Minha família é muito rica. Todo final de ano, passamos em Mar Del Plata. E eu tenho pavor da velhice, pavor!" Assim falou Sônia Silk, a "fera oxigenada", brilhantemente vivida por Helena Ignez no mais do que antológico filme de Rogério Sganzerla "Copacabana Mon Amour" (1970). E parodiando o não menos genial John Waters e sua lista dos "Filmes que irão te corromper" (no melhor sentido do termo), início minha lista pessoal de tais pérolas corruptoras, com esta jóia suprema, produzida pela Belair (Produtora sediada no Rio de Janeiro, comandada por Rogério Sganzerla e Júlio Bressane que, entre fevereiro e maio de 1970, em seu breve, mas prolifico período de existência, lançou sete filmes). "Copacabana Mon Amour" é um radical experimento em termos narrativos, praticamente rodado com câmera na mão, do começo ao fim, com diálogos em grande parte, claramente improvisados e um senso de humor (às vezes, quase involuntário) muito peculiar. Dialoga com a cultura popular e as religiões afro-brasileiras, numa época em que tal atitude não se resumia a meramente atender uma demanda de mercado e, por tabela, "higienizar", junto ao grande público, a imagem da elite econômica e também cultural que detém os "meios de produção" audiovisual no Brasil. Destaque para a pequena, mas marcante participação de Lilian Lemmertz que está simplesmente idêntica à Anna Karina em cena (referência bastante coerente já que, assim como Orson Welles, Godard sempre foi uma das grandes referências presentes no cinema de Sganzerla). Destaque também para a trilha sonora composta por Gilberto Gil e, claro, impossível não destacar ainda, a figura do sujeito que, mesmo estando recentemente desempregado, sai pelas praias do Rio, gritando: "Eu tô apaixonado pelo meu patrão!" Obs: qualquer semelhança com os futuros pobretões de direita, fãs incondicionais de Elon Musk, pelo visto, não é mera coincidência... rs