O LUCA PÉ NA COVA E O IMBESURDO
(da série Textículos e Pequenas Fábulas)
- Categoria: Humor
- Publicação: 14/12/2024 01:39
- Autor: Silvio Cosenza

Só quem não esteve vivo para ver pode achar esse papo de imbesurdo patuscada
esdrúxula, sem que razão lhe falte, mas o fato é que passou a se configurar como
um fenômeno coletivo, local, é verdade, porém debatido com ardor até nas
reuniões pedagógicas e de pais e mestres.
A evidente inferência de se tratar da mera junção dos vocábulos imbecil e
absurdo certamente não explica a coisa toda. O imbesurdo era antes uma arma
de constrangimento em massa. Consistia em dobrar o dedo indicador feito um
gancho, prendê-lo entre os dentes e correr atrás de alguém gritando no tom mais
grave que a voz alcançasse: “imbesurdo, imbesurdo!”. Caso a presa fosse
capturada, era vigorosamente aplicado junto ao escutador de broncas do infeliz.
Creio desnecessário que se diga ser o Luca Pé na Cova seu idealizador e máximo
líder, mas é preciso afirmar que num curto espaço de tempo toda uma legião de
ativistas tomou forma e que o alvo preferido eram as meninas, em especial as
dondocas, que em pânico protagonizavam burlesco espetáculo de gritaria.
Algumas tipo a Ivonete, adesão de primeira hora, mudaram de lado e formavam
uma espécie de ala feminina do movimento que crescia, já ameaçando romper
as fronteiras da escola. Intramuros, bastava um único indivíduo de bobeira, fosse
quem fosse, mesmo o próprio Luca, para a gangue do imbesurdo atacar. O
escasso intervalo de trinta minutos transformou-se em caos tamanho, que até a
Da. Rose, professora de Inglês, acabou vítima dos assaltantes.
Apesar de a rigor ninguém naquela época ter a menor noção do que “bullying”
pudesse vir a significar, quando um membro do corpo docente entra no samba,
é hora de se fazer alguma coisa. Foi então que a Da. Ilka, a diretora, decidiu
reunir toda escola em filas por classes no pátio - como era usual - ocupando três
quartos dele. Numa longa peroração, explicava os malefícios da prática, que
aquilo ofendia os colegas, desrespeitava os mestres e maculava o sagrado
ambiente de estudos, para no fim terminantemente proibir que a brincadeira
prosseguisse.
De início veio a surpresa, mas o silêncio pouco durou. Só se viu o Luca Pé na
Cova sair da fila, e correndo em círculos pelo vão desocupado, com seu gesto
característicio bradar: “imbesurdo, imbesurdo”!
Por Silvio Cosenza
(É mentira que o Silvio aplicava o imbesurdo)
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