Franquia Evil Dead
Analise dos 5 Filmes
- Categoria: Critica de Filmes
- Publicação: 13/12/2024 23:20
- Autor: Italo Morelli Junior

The Evil Dead (1981) Nota 10/10
The Evil Dead foi lançado em 1981 e só chegou aqui no Brasil em 25 de Maio de 1989. Nem tanto por ser um período pós-ditadura, mas por serem outros tempos mesmo. O filme de terror mais falado da época fez boa carreira nos festivais internacionais e não era tão simples e nem barato conseguir trazer pra cá uma obra tão polêmica - o prejuízo podia ser enorme.
Não lembro exatamente quando, mas ainda na década de 80, uma cópia em VHS (na época as fitas não eram seladas e a qualidade não era boa) apareceu na vídeolocadora Solar num trecho da avenida Sapopemba. Era uma das únicas do bairro e muito frequentada, ficava numa sala em cima de uma agência bancária juntamente com um dentista. Lembro da atendente recomendando o lançamento mais recente porque era muito bom: A morte do Demônio. Só com esse nome, eu e minhas irmãs mais velhas deveríamos ter imaginado o que viria pela frente, mas só com uma ficha que ficava na prateleira e sem a embalagem com as imagens do filme, ficava difícil. Assistindo hoje, é possível notar cada erro na montagem, a maquiagem mal feita e o amadorismo como um todo, mas quem na época percebeu?
A criatividade do jovem diretor Sam Raimi era tanta que ele conseguiu, mesmo depois da existência de O Bebê de Rosemary (1968), O Exorcista (1973), A Profecia (1976), Carrie - A Estranha (1976) e O Iluminado (1980), fazer um clássico do terror.
São tantos detalhes bacanas e tanto empenho do elenco, que dá pra revelar alguns momentos que hoje arrancam risadas da geração Tik Tok. Porém quando eu assisti aos 12 anos, fiquei muito impressionado no mau sentido. Minhas irmãs gritavam muito e eu as vezes tapava os olhos porque o gore era pesado demais.
Hoje parece batida a história de um grupo de jovens amigos que vão passar um fim de semana numa cabana no meio do mato, mexem num livro e libertam uns demônios. E aconteceu tantas barbaridades no mundo de lá pra cá que dá pra dizer que A Morte do Demônio envelheceu mal e perdeu uns 80% do impacto que teve na época. Tanto isso é verdade que um remake feito trinta anos depois, fez algumas alterações na história pra se modernizar - cada um tem seu próprio "demônio" interior e só é preciso o estímulo certo pra colocá-lo em atividade, sem terceirizar a culpa a nenhuma entidade maligna.
Metafórico? Não exatamente. The Evil Dead se assume como um exemplar do terror trash e assim merece ser visto. Eu não mudaria nada nele.
Se pra muitos não serve como entretenimento, deveria pelo menos ser um exemplo de como fazer história com o mínimo de recursos num segmento do cinema que é tão desprezado, inclusive pelo Oscar.
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Uma Noite Alucinante 2 (1987) Nota 9/10
Só depois do sucesso deste nos cinemas é que o primeiro A Morte do Demônio (1981) foi lançado no Brasil, primeiro nas telonas e depois em VHS.
Os nomes até confundiram o público, já que alguém decidiu que o nome original Evil Dead (Mau Morto) não era muito atraente. Então o primeiro passou a se chamar Uma Noite Alucinante e também é conhecido como a Morte do Demônio, já que tanto a Tec Vídeo quanto a Look Filmes lançaram as fitas aqui.
Lembro quando passou na Tela Quente da Globo e o assunto no dia seguinte era só Uma Noite Alucinante. Em casa, na rua e na escola só se falava nisso. Porém, diferente dos colegas de classe, eu era o único que havia assistido o anterior, que não tinha nada de engraçado. Bons tempos.
Então eu tentei resumir o que havia assistido e no geral, a galera gostou mais deste segundo, graças ao fator terrir e por terem visto na tv aberta, dublado, com os reclames do plim plim pra fazer a pipoca e o melhor: a família reunida na sala de casa perante a televisão de tubo 20 polegadas. Bons, bons e saudosos tempos.
Com um pouco mais de dinheiro (o que possibilitou um melhor trabalho de maquiagem e até a técnica do Stop Motion) e muita aclamação mundial, o diretor Sam Raimi reciclou e aprimorou seu próprio filme de estréia e acrescentou doses inusitadas do mais puro humor maldoso pra aliviar os excessos do gore, tão intenso quanto no anterior, porém com novos nomes no elenco. A história é praticamente a mesma, com o mocinho Ash (Bruce Campbell, totalmente a vontade e se divertindo muito) enfrentando demônios a rodo. É fascinante observar o quanto Sam Raimi tem domínio sobre o próprio material, lembrando que o lançamento ocorreu bem na reta final da década de 80, onde o gênero terror imperou e levou multidões ao cinema. O que poderia ser mais do mesmo, encerrou com chave de ouro um inesquecível ciclo de terror trash que nunca mais se repetiu, apesar das inúmeras tentativas.
Várias cenas e diálogos fizeram a cabeça de toda uma geração e hoje são considerados um tesouro do gênero. Hollywood adentrou os anos 90 com muitos filmes de qualidade, mas teve nos calcanhares o hoje esgotado "cinema alternativo", que terminou vítima das fórmulas que sempre criticou. A marca Evil Dead continuou forte, com edições especiais lançadas em DVD cheios de material extra e imagem remasterizada, além de sessões especiais nas salas de cinemas.
Mal sabíamos que viria uma enxurrada de filmes de terror ruins e remakes constrangedores, que se fossem mal nas bilheterias, se safavam em home vídeo e em último caso na tv a cabo. Chatos, chatos tempos estes no final da década de 90, e nas festas de Halloween, adivinhem o que sempre era exibido pra delírio da garotada? Evil Dead 1 e 2, lógico.
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Uma Noite Alucinante 3 (1992) Nota 8/10
Sam Raimi extrapolou pra encerrar a trilogia e não foi pouco: o mocinho Ash (Bruce Campbell) vai parar na idade média e o que um dia já foi trash e gore, assume o humor pastelão sem medo.
E por incrível que pareça, acerta muito.
Mais canastrão do que nunca, Ash precisa enfrentar um exército de caveiras hilárias e outras criaturas malignas llideradas por um demônio mór. Mesmo consagrado, Sam Raimi não conseguiu o investimento que queria e mais uma vez teve que se virar com pouco. Já na época o visual carecia de um cuidado maior e visto hoje só reforça o humor explícito. Army of Darkness, o título original, lembra uma cruza de Coração Valente versão terror com toques de Monty Python. Não foi muito bem nas bilheterias, mas foi salvo assim que foi lançado em VHS, se tornando cult entre os cinéfilos - ainda que um pouco rejeitado pelos fãs dos originais.
E pra fazer companhia ao herói Ash, a sul-africana Embeth Davidtz foi escalada pra ser a mocinha. Sua beleza e talento chamaram a atenção do diretor Steven Spielberg, que a escalou pra ser a criada nazista em A Lista de Schindler (1993) após a recusa de Juliette Binoche.
Exibido na Tela Quente da Rede Globo, teve bons números de audiência e mais uma vez foi assunto nas rodas de bate papo ao vivo, já que na época não havia internet e fóruns de discussão. A comparação com os filmes anteriores foi inevitável e a preferência dos expectadores por Army of Darkness se deve ao fator humor, que dita o ritmo dessa batalha do bem contra o mal e encerra essa magnífica trilogia com dois finais: um bastante triste e apocalíptico e outro divertido e mais adequado a marca Evil Dead.
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A Morte do Demônio (2013) Nota 6/10
O diretor Sam Raimi gostou tanto do curta Ataque de Pânico (2009), que contratou o uruguaio Fede Alvarez pra comandar um novo capítulo da saga Evil Dead. Agora como produtor junto com Bruce Campbell, o Ash, Sam Raimi também contou com a roteirista Diablo Cody pra revisar o roteiro, já que Alvarez não era tão fluente no inglês.
A exemplo do filme de 1981, este novo Evil Dead também se passa numa cabana na floresta e conta com cinco jovens que irão passar uma noite tentando sobreviver a fúria de um demônio que foi libertado através do Livro dos Mortos. Sai o Ash e entra Mia (Jane Levy) que foi levada até lá pra superar o vício em drogas. O que de início podia ser uma crise de abstinência, é na verdade uma possessão demoníaca e o resto, pra quem viu toda a saga até aqui, já se sabe de cór e salteado. O que faz deste Evil Dead um remake (ou uma reimaginação do original) foi a decisão de deixá-lo mais caprichado no visual e mais potente no gore - com direito a uma chuva de sangue, elevando-o a categoria de filme mais sangrento da história. Se acerta em alguns pontos, Evil Dead 2013 peca em outros, com a falta do humor maldoso e o excesso de plasticidade, que só faz ostentar o orçamento 100 vezes maior que o oriignal. É visível a tentativa de Fede Alvarez em entregar um resultado final superior ao longa de 1981, como se tivesse corrigido todas as falhas. Muitos cometem o equívoco em afirmar que Evil Dead 2013 é superior a todos os filmes da franquia, inclusive o novo. Tanto Sam Raimi quanto Bruce Campbell aprovaram o trabalho de Alvarez e muito se cogitou que ele fizesse também um remake de Uma Noite Alucinante 2. Durante a Copa do Mundo de 2014, ele declarou que se o Uruguai fosse campeão, ele iria dar início a sequência de Evil Dead, o que não aconteceu até hoje. O recente Evil Dead Rise, lançado exatos dez anos depois, deu um novo fôlego a franquia. A produção mais uma vez ficou a cargo de de Sam e Bruce, mas sem Fede Alvarez, que foi subatituído pelo irlandês Lee Cronin - o que não descarta a possibilidade do uruguaio fazer sua prometida sequência. Diablo Cody deu seu toque no roteiro e quase fez em Evil Dead 2013 um multiverso da loucura de Garota Infernal com Juno, só faltou Amanda Seyfried ou Megan Fox no lugar de Jane Levy se beijando com as línguas bifurcadas.
O que o novo tem melhor em relação ao anterior é um roteiro bem escrito que expande a mitologia pra além da cabana e da floresta. O elenco também é excelente e mais preparado. Evil Dead Rise também exagerou na quantidade de sangue falso, mas cuidou melhor da parte técnica, especialmente o som.Trocar Ash por uma final girl não fez tanta diferença porque a história continuou praticamente a mesma, sem novos ganchos - o que deixa a impressão de que se novas sequências existirem, partirão de Evil Dead Rise e não deste, que se fecha em si mesmo por não apresentar novas propostas.
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Evil Dead Rise (2023) Nota 9/10
Quem é fã do clássico original de 1981, gostou da continuação-reboot de 1987, embarcou na proposta cômica do terceiro filme de 1992 e aprovou o remake de 2013, vai se esbaldar com Evil Dead Rise.
A franquia está viva graças a pouca quantidade de filmes lançados, o que de certa forma ajudou a não desgastar a idéia original. Foram vinte anos entre o terceiro filme e a refilmagem e mais dez para este novo, e entre eles dezenas de filmes ruins sobre possessão demoníaca que ninguém mais lembra.
O primeiro Evil Dead conseguiu fazer história e segue sendo referência e foi idealizado, escrito, produzido e dirigido por um certo Sam Raimi, até então um jovem sonhador, cheio de ótimas idéias e pouco dinheiro. Muitos até cometem a heresia de preferir a versão de 2013 (feito com um orçamento bem maior e muitos litros de sangue falso) do que a matriz artesanal que jorrava creme de abacate pelos membros decepados dos pobres personagens. Hoje os efeitos práticos e a tecnologia evoluíram muito, mas só eles não bastariam pra que um estúdio desse sinal verde para uma nova produção. O diferencial?
A história que se passava numa cabana no meio do mato foi transferida de maneira inteligente pra um cenário urbano, em plena Los Angeles num daqueles portentosos edifícios antigos cujos apartamentos são enormes, bonitos de dia e assustadores de noite. E sim, há muito sangue. Foram usados mais de sete mil litros de sangue falso, fora a quantidade de vômito e secreções.
Após o prólogo que faz uma gambiarra com o Evil Dead de 1981, a técnica em guitarra Beth (a ótima Lily Sullivan) descobre que está grávida e decide visitar a irmã Ellie (Alyssa Sutherland, ótima também) e os três sobrinhos. Um terremoto com escala 5,5 abre uma fenda na garagem onde existe um cofre e dentro dele está o livro dos mortos com uns discos de vinil gravados por exorcistas católicos em 1923. Um dos filhos de Ellie, o aspirante a DJ Danny (Morgan Davies) leva tudo para o apartamento e após ouvir os discos e folhear o livro feito de carne curada e ilustrado em sangue, liberta um entidade maligna que possui sua própria mãe e a carnificina começa.
Isolados no prédio devido ao terremoto e - óbvio - de noite, sem luz e sem internet, parentes e vizinhos tentarão sobreviver ao massacre.
O elemento claustrofóbico do apartamento funciona tão bem quanto a cabana onde Ash (Bruce Campbell) passou os eventos de 1981. O remake de 2013 inseriu alguns elementos novos mas manteve a cabana, respeitando o original. Já Evil Dead Rise tem mais campo de ação, muda a localização do livro sem dar explicações e se conecta com o primeiro no melhor estilo "ciclo sem fim", o que pode expandir o universo da franquia positivamente, desde que caia em mãos habilidosas e mentes evoluídas.
O diretor Lee Cronin, que tem apenas um longa no currículum (o fraco O Bosque Maldito, de 2019) mostra uma competência absurda e consegue desempenhos marcantes de todo o elenco, inclusive da atriz Nell Fisher de apenas 12 anos.
Câmeras certas no lugar certo, muito close, atenção nos detalhes, direção de arte e fotografia bem cuidados, ótima maquiagem, excelente edição e um trabalho impressionante de mixagem de som, crucial para um bom filme de terror. As mulheres são sempre as loucas nessa franquia, são sempre as frágeis que surtam e são possuídas pelo mal e precisam ser destruídas, o que abre uma brecha para muitas interpretações que vão desde de saúde mental fenimina a misoginia. Mia em 2013 era uma viciada em drogas e agora Ellie é a mãe de três filhos que foi abandonada pelo marido. Esses elementos usados para humanizar as personagens possuídas estão aqui pela primeira vez com a heroína Beth, uma técnica de som que é chamada erroneamente de groupie, cuja função é servir sexualmente aos integrantes de uma banda de rock. Ela também engravidou sem querer de um músico comprometido e mal sabe que será obrigada a enfrentar seus demônios, literalmente.
Metáforas? Muitas e não há como não observá-las aqui e ali, assim como referências/homenagens a todos os filmes anteriores.
Juntando tudo, estamos diante de um exemplar digno da grife Evil Dead, cheio de pontas soltas para uma continuação, ou até duas e um encerramento definitivo. Os fãs ficarão mais do que satisfeitos.
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