Pânico moral na Inglaterra: a era dos video nasties
Video nasty é um termo que se popularizou na Inglaterra no início dos anos 80 para denominar filmes cuja distribuição em vídeo era proibida.
- Categoria: Mídia Física
- Publicação: 12/12/2024 17:55
- Autor: Santiago Tapia

Todo filme que quisesse ser exibido nos cinemas do Reino Unido precisava ser aprovado pelo Conselho Britânico de Classificação de Filmes, ou BBFC (British Board of Film Classification). Em alguns casos, essa certificação era negada, ou era necessário cortar cenas de sexo, violência e gore para obtê-la.No entanto, havia uma brecha legal que os censores britânicos não tinham previsto e que logo causaria uma grande polêmica: essas restrições não se aplicavam à nova, mas crescente, indústria do vídeo doméstico.
As locadoras começaram a se encher de cópias de filmes que não haviam sido aprovados pelo BBFC, ou sem os cortes exigidos para sua exibição nos cinemas.Funcionários do governo de Margaret Thatcher iniciaram uma campanha, apoiada por artigos alarmistas na mídia, para criar regulamentações que abarcassem todos os filmes, não apenas os lançados nos cinemas. A justificativa era a mesma de sempre nesses casos: proteger as crianças e suas mentes jovens, que estariam em risco de ser corrompidas. Com o argumento de que imagens gráficas tinham um impacto negativo na sociedade, especialmente no público jovem, foi aprovada em 1984 a VRA (Video Recordings Act).

A VRA era uma lei que ampliava os poderes do BBFC para incluir os videocassetes. Um filme só poderia ser vendido ou alugado se tivesse uma classificação etária. Alguns títulos, no entanto, foram totalmente proibidos, independentemente da idade do comprador. Os filmes incluídos nessa lista de proibição total ficaram conhecidos como video nasties (que poderia ser traduzido como “vídeos repugnantes”). Sua venda era ilegal e era comum ver policiais entrando em locadoras para confiscar cópias desses filmes.
Entre os títulos da lista estavam desde exemplos de Nazisploitation e filmes italianos de canibais, passando por Inferno de Dario Argento, ou Possession de Andrzej Zulawski, até um clássico absoluto como Evil Dead. Este último foi classificado por Mary Whitehouse, a principal ativista contra os filmes “imorais”, como “o video nasty número um” – apesar de, como a própria Whitehouse admitiu, nunca ter assistido ao filme.

Mas a proibição geralmente tem o efeito oposto ao desejado. Logo se consolidou um mercado clandestino, onde essas produções eram compradas e trocadas. Quando a lista completa de video nasties foi divulgada, ela se tornou uma espécie de guia para os fãs de terror e gore. O selo video nasty não era visto por esse público como uma vergonha, mas como um distintivo de honra. A censura, em vez de esconder, acabou criando um novo catálogo de terror cult, para o deleite dos amantes do cinema sombrio.
Depois de 14 anos, o BBFC mudou de diretor, e as restrições foram se tornando cada vez mais brandas com o passar do tempo. Já no século XXI, quase todos os filmes da lista foram lançados sem cortes. Com algumas exceções, como Holocausto Canibal, que ainda precisou ter algumas cenas removidas para que sua distribuição fosse permitida.
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