"Uma vez por semana, sem falta, eu acordo às 5 da manhã e saio por aí coletando donativos para os necessitados. Afinal, se nós que temos, fizermos algo pelos que não tem, o mundo seria muito melhor, não é mesmo?" Assim falou a perua, brilhantemente encarnada por Ariclê Perez em "Quanto Vale Ou É Por Quilo?" (2005), escrito e dirigido por um dos mais acidamente irônicos cronistas sociais em forma de cineasta das últimas décadas, Sérgio Bianchi. Seu retrato acerca de boa parte da geração de "ongueiros" e empresários "com consciência social", por trás dos quais se esconde muito oportunismo e enriquecimento ilícito, é mesmo deliciosamente corrosivo. Obs: destaque absoluto para a cena em que Bianchi traça um paralelo (lúcido e cruelmente coerente) quanto às semelhanças entre um capitão do mato do Brasil imperial que lucra caçando indivíduos que possuem a mesma origem racial e social que ele próprio e um jovem da periferia que acaba se tornando matador de aluguel a serviço de empresários e comerciantes do bairro, para "limpar a região", matando seus iguais em termos de exclusão social. Obs 2: ultra-destaque também, para a cena em que o personagem (presidiário negro) vivido por Lázaro Ramos, diz: "sequestro não é crime, é redistribuição de renda". Pra se fazer pensar, mas, como diz um amigo meu (Cláudio Medusa), vocês infelizmente não estão prontos pra essa discussão..