Quando duas mulheres se apoiam
Crítica do filme “O Quarto ao Lado” (2024), de Pedro Almodóvar
- Categoria: Análises e Críticas
- Publicação: 25/11/2024 16:42
- Autor: Bia Malamud

Se você é fã de Ingmar Bergman (1918-2007), cineasta sueco, vai rapidamente identificar alguns elementos comuns do filme “Persona – Quando Duas Mulheres Pecam” (1966) com “O Quarto ao Lado”, último filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar.
Em primeiro lugar, em cada um dos filmes, temos duas mulheres que se isolam em uma casa afastada da cidade. Uma está doente e a outra faz, de alguma forma, o papel de cuidadora. Em ambos os filmes, as imagens em que as duas estão juntas, muitas vezes se fundem. Há o elemento masculino comum às duas personagens de cada um dos filmes, ou seja, o envolvimento de ambas com o mesmo homem. E ainda, o tema da dificuldade na vivência da maternidade.
Primeiro filme de Almodóvar falado em inglês, “O Quarto ao Lado” foi premiado com o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza de 2024, e traz elementos muito próprios e, como sempre, ousados, algo comum nas temáticas do cineasta espanhol. Essa é a história de duas amigas jornalistas que trabalharam juntas e que se afastaram. Depois, com a doença de uma delas, elas voltam a se unir.
É verdade que as cores estão menos chamativas e há mesmo um tom sombrio que percorre o filme inteiro. Mas ainda assim, o destaque fica por conta do uso pontual do vermelho, e ainda, do verde e do amarelo em sua paleta de cores. Almodóvar também se utiliza de flores como elementos estilísticos para compor um quadro que fala da morte. As flores estão sempre em todos os lugares. Nos vasos, nas paredes e na natureza. A trilha sonora de Alberto Iglesias é belíssima e ajuda a pontuar os momentos mais emocionantes.
Em “O Quarto ao Lado”, vemos um Almodóvar mais sóbrio, praticamente propondo ao espectador que encare com sobriedade os pesados assuntos que aborda.
Diferente de outros filmes do diretor, ele chega a levantar bandeiras em temáticas muito atuais como o suicídio assistido, a eutanásia, a ecologia e as mudanças climáticas sem nunca abrir uma brecha para um sentimentalismo exagerado, e sempre apostando na dignidade do fim e no amor pela vida mesmo em meio à destruição iminente do planeta. Isso pode ser observado nos diálogos entre Damian, personagem de John Turturro, e Ingrid, personagem de Julianne Moore. Aliás, a atriz é conhecida como a mulher que nunca envelhece, pois mesmo com o passar dos anos, continua bela e jovem.
Mas, o destaque de “O Quarto ao Lado” fica muito por conta da interpretação magistral de Tilda Swinton como Martha, a jornalista doente. Sem resvalar, na maioria das vezes, para a autopiedade, temos um personagem que aborda questões relevantes como a doença e a necessidade de sair de cena de forma digna. O visual andrógino de Swinton e sua interpretação compõem de forma visceral o retrato de uma pessoa doente, que só é trazida à vida devido à amizade.
Também chama a atenção, a presença do tema da guerra no filme inteiro. O pai da filha de Martha sofreu um trauma emocional e psicológico ao participar da Guerra do Vietnã. Afinal, Martha é uma repórter que cobre essencialmente guerras, e ela nos fala da adrenalina de participar das Guerras do Iraque e da Bósnia – sendo que considerou a última como a mais interessante. Trava-se aí um diálogo surreal em que Ingrid pergunta qual foi sua guerra preferida e Martha responde que foi a da Bósnia em função da garra da população.
Mas, a doença e a morte seguem sendo seu leitmotiv. “O Quarto ao Lado” também conversa com o genial “Fale Com Ela” (2002), filme de Almodóvar que igualmente trata de doença das protagonistas femininas e que culmina com a morte de uma delas. De algum modo, ele repete a máxima do filme “Fale Com Ela” em que dois homens apaixonados são instados a conversar com suas amadas moribundas.
No caso de “O Quarto ao Lado”, o mantra seria “Fique Com Ela”, para que, nos momentos finais ela possa manter a dignidade na hora da morte.
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