Trinta e dois anos de Cães de Aluguel
- Categoria: Critica de Filmes
- Publicação: 09/11/2024 22:23
- Autor: Ítalo Morelli Junior
A estréia de Quentin Tarantino no cinema continua impactante, 30 anos depois: Cães de Aluguel entusiasmou a crítica na época que viu naquele jovem caucasiano um talento promissor, comparando-o, entre outros, a Martin Scorsese em início de carreira. Deve ter sido a última vez em que o Festival de Cannes ficou seriamente agitado.
Com baixo orçamento, e apoio do produtor Lawrence Bender e do ator Harvey Keitel, Tarantino conseguiu tirar do papel o seu sonho de dirigir um longa metragem depois de anos trabalhando numa vídeo locadora aonde tinha acesso a um catálogo dos mais variados tipos de filmes de várias partes do mundo que iam do Trash aos Clássicos. Ele vendeu seus roteiros de Amor à Queima Roupa e Assassinos por Natureza e conseguiu convencer Harvey Keitel a ser o produtor executivo depois de ler o roteiro muito violento inspirado entre outros pelo clássico Rashomon de Akira Kurosawa.
A história, aparentemente simples, tem uma narrativa entrecortada por flashbacks que vão aos poucos revelar quem é o policial infiltrado num grupo de bandidos que fez o assalto a uma joalheria dar errado.
Aqui não há nenhum julgamento moral: são bandidos porque assim escolheram, nada de serem frutos do meio em que nasceram ou vítimas da sociedade. Optaram pelo crime como quem opta por ser vendedor de seguro ou estivador no cais do porto - assim também é em seus futuros trabalhos: Pulp Fiction, Jackie Brown e Kill Bill. Também não há personagem feminino, não porque Taranto não saiba escrever um, mas sim porque nenhum dos bandidos aqui levaria a namorada pra um assalto. Com encenação caprichada e o frescor de quem está estreando por trás das câmeras, o argumento é reforçado pelos diálogos criativos e por situações inusitadas e angustiantes, como a cena que o personagem de Michael Madsen tortura um policial. A Trilha Sonora é da melhor qualidade e assim passou a ser em todos os seus filmes seguintes - após ver um filme de Quentin Tarantino, dá vontade de passar numa loja e comprar o CD. O elenco brilha coletivamente, sem ter um protagonista definido: Harvey Keitel empresta sua postura de durão e nos entrega uma de suas melhores interpretações; Tim Roth, Steve Buscemi, Michael Madsen e o saudoso Chris Penn mostram serviço e suas atuações são marcantes e a, exemplo de Alfred Hitchcock, Quentin faz uma rápida aparição.
Assistir Cães de Aluguel hoje, ainda é uma experiência e tanto, diferente de muitos filmes da mesma época que já envelheceram.
Nota 10/10
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