Quem cuida de quem cuida?
Pergunta necessária e provocadora. Todas e todos nós, pelo menos em tese, sabemos sobre a invisibilidade do trabalho de cuidar. Faltam políticas públicas, apoio familiar e um olhar solidário da sociedade num contexto geral.
- Categoria: Saúde
- Publicação: 28/10/2024 19:09
- Autor: Cleide Cruz
A maioria de nós se emociona e acha lindo quando ouve uma história de dedicação e cuidado seja de uma mãe, filha, pai, avó, tia, esposa, marido etc.
Mas… e as mazelas que quem cuida passa, será que a sociedade tem essa real noção?
Noites de sono e saúde perdidas. Falta de ajuda psicológica e financeira. O desrespeito com o cansaço do dia a dia, cobranças de mais presença e otimismo com a vida e por aí vai.
O que mais ouço estando nesse lugar, tenho um filho de 6 anos autista nível 2 de suporte, é que tudo vai dar certo se eu manter a alegria e me apegar com Deus.
Mas quais são as condições materiais para isso? Usando meu filho como exemplo ele precisa de um bom tratamento terapêutico e medicamentoso com no mínimo de 4 horas semanais de intervenção. Mas o SUS e mesmo os serviços particulares não oferecem nem a metade disso.
Não existem medicamentos eficazes para os sintomas do autismo e as pesquisas sobre otranstorno são, pra dizer no mínimo, enviesadas na grande maioria das vezes.
Tudo é colocado como fato consumado e de uma maneira como se não houvesse outras formas de tratar do assunto. Precisamos de um olhar cuidadoso do Estado que além de um bom apoio financeiro, pois a maioria das cuidadoras e cuidadores ficam impossibilitados de trabalhar fora, um apoio psicológico robusto e apoio nos trabalhos diários.
O Estado poderia contratar e treinar trabalhadoras(es) para ir às casas dar essa ajuda tão necessária. O que fariam esses cuidadores públicos? O que fosse necessário. Limpar a casa, lavar roupa, preparar a comida, ajudar na lida com a pessoa cuidada etc.
Essa ação é feita em muitos países europeus que enxergam a necessidade de cuidar de quem cuida. Precisamos lembrar que cuidadoras e cuidadores abrem mão de suas vidas e venhamos e convenhamos além de injusto não seria necessário se tivéssemos uma sociedade educada para fazer o cuidado com respeito e humanidade.
Precisamos falar da falta de empatia das maioria dos familiares de quem cuida também. Viram as costas, criam problemas, fazem deboche, essa questão precisa ser debatida pela sociedade com muita seriedade pois se trata de uma violência nada simbólica. Eu, meu filho e o pai dele somos vítimas dessa falta de empatia de nossos familiares.
Falar, escrever e levar o tema cuidado como uma obrigação humana da nossa sociedade é urgente. Pois o cuidado é um serviço essencial.
E quem cuida de quem cuida?
Camaradas e companheiras…
Todas, todes e todos nós.
Cleide Cruz
Mãe atípica, do lar e poetisa