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Walter Hugo Khouri - E o Existencialismo Vai Ao Cinema No Brasil.

Em 21/10/1929, nascia, em São Paulo, um dos mais originais e singulares cineastas brasileiros: Walter Hugo Khouri.
  • Categoria: Cinema
  • Publicação: 22/10/2024 09:32
  • Autor: Ricardo Coqrsetti
Num período em que a grande tendência do cinema brasileiro e latino-americano de forma geral, era a abordagem de temas políticos e sociais, Walter Hugo nos brindou com filmes introspectivos e de caráter pessoal, fortemente ligados a uma visão de mundo "pessimista" (destoando do otimismo que costuma caracterizar o cinema de cunho social), profundamente influenciada pelo existencialismo alemão e francês e, sobretudo pela filosofia de Schopenhauer.

Não por acaso, seu cinema logo foi taxado como "alienado e reacionário", por seus companheiros de profissão, como Glauber Rocha, pur exemplo, seu principal crítico.

Por conta deste caráter intimista e, digamos assim, sofisticado de suas temáticas, Khouri costuma ser, com frequência, comparado ao diretor sueco Ingmar Bergman. Porém, conforme o próprio cineasta já afirmou em entrevistas, sua principal referência na verdade, era o cineasta italiano, Michelangelo Antonioni.

E isso é facilmente perceptível a um autêntico olhar cinéfilo, afinal, peguemos como exemplo, um de seus melhores trabalhos, o filme "As Amorosas" de 1968, onde há diversas e claríssimas referências ao ultra-clássico de Antonioni, "Blow Up" de 1966, inclusive no desfecho da trama do filme brasileiro... 

Outra prova disso é que, ao contrário do discreto otimismo que, quase sempre, costuma caracterizar o desfecho das tramas dos filmes de Bergman, por exemplo, no cinema de Khouri, jamais há qualquer concessão a um desfecho que não seja coerente a sua visão de mundo, segundo à qual, sofrimento e eterna insatisfação humana regem a vida; exatamente como também ocorre a praticamente todo desfecho de trama, idealizado por seu mentor, Antonioni.

Outra marca indelével ao cinema de Walter Hugo, é a presença de belíssimas musas (atrizes). Não por acaso, sua filmografia, ao longo de três décadas: anos 60, 70 e 80, é um autêntico desfile de absolutamente todas as grandes musas do cinema brasileiro, tais como: Norma Bengell e Odete Lara em "Noite Vazia" (1964 - indicado à Palma de Ouro em Cannes, inclusive), a lindíssima Rossana Ghessa em "O Palácio dos Anjos" (1970), Sandra Bréa em "O Princípio do Prazer" (1979), Kate Lyra, Kate Hansen e Dina Sfat em "Eros - O Deus do Amor" (1981), Christiane Torloni, Nicole Puzzi e Bia Seidl em "Eu" (1985), etc.

Autor de estilo praticamente único no cinema brasileiro, Walter Hugo, infelizmente, nos deixou em 27/06/2003; sua extensa filmografia, porém, tornará eterna a figura deste autêntico filósofo e esteta da sétima arte made in Brazil.