Nicolas Cage: O que sua carreira recente diz sobre o polêmico ator
- Categoria: Cinema
- Publicação: 07/10/2024 14:19
- Autor: Lucas Leite Tinoco
De certos tempos para cá, a indústria cinematográfica mudou por inteiro. Filmes que não possuíam alcance, por serem ligados a um modo de produção de forma independente, começaram a ser notados de forma mundial. Um desses exemplos, somente, é a produtora A24 que cativa todos os dias novos espectadores.
Muito em decorrência de uma nova ânsia por novas histórias e uma carreira já consolidada, o peculiar ator Nicolas Cage começou a se aventurar em tal indústria.
O que antes era O Beijo do Vampiro, A Lenda do Tesouro Perdido, O Sacrifício, Zandalee, A Rocha, Motoqueiro Fantasma 1 e 2, entre outros, se tornou Pig, Mandy, Willy's Wonderland, e muitos outros exemplos de produções independentes, com certo ar psicodélico, que chamaram a atenção de diversas pessoas.
Claro, não necessariamente todo o corpo de trabalho antigo dele é ruim, afinal, o mesmo estrelou cerca de 200 longas-metragens com os mais diversos idealizadores, incluindo David Lynch, Charlie Kaufman e Alan Parker, o que denota que, sim, Cage é um ótimo exemplo de ator, ao se moldar aos mais diversos exemplos de direcionamento audiovisual.
O ápice desse posicionamento mais “indie” de Nicolas foi neste ano de 2024 com suas novas 3 produções sendo lançadas em território brasileiro, mesmo que tenham sido lançadas em diferentes anos em outros países.
“O Homem dos Sonhos” é novo longa do ator que, justamente, vai se apoiar no onírico para falar da vida de um homem supostamente normal. A obra do estúdio A24 conta a história de Paul Matthews, um professor comum que vive de forma um pouco bucólica. Porém, tudo nessa normalidade muda ao mundo inteiro começar a sonhar constantemente com ele, o que traz fama, seus benefícios e seus malefícios.
Com esses lapsos de realidade, o filme segmenta a denominada fórmula A24: uma premissa que tenta se sobressair do mundo tátil e partir para o irreal, mas se mantendo, em forma, no cotidiano usual.
De fato, o longa tenta explorar a figura do homem comum, partindo do que pressuposto de monotonia para a quebra por completo da mesma, gerando um senso de paz, libertação e destreza, entretanto, também ruína a posteriori.
Sendo, assim, um filme que segue padrões, porém padrões de seu estúdio, onde o foco é deixar o convencional, inusitado.
O seu outro longa do ano foi “Ligação Sombria”, um simples road movie com elementos psicodélicos que já havia sido comercializado há certo tempo em produtoras estrangeiras.
O filme conta a história de um pai de família que está deixando seu filho em casa, após um longa dia, aparentemente, na escola, para ir diretamente ao hospital por conta de sua mulher parindo uma nova criança. No entanto, o mesmo não espero que, ao chegar lá, uma figura sombria, interpretada de maneira maníaca por Cage, o espera.
Voltando para o gênero que o abraçou na produção de David Lynch ou quando atuou como um motoqueiro demoníaco, mais uma vez o retumbante ator recorre aos Road Movies para trilhar mais uma narrativa dos mesmos, se utilizando de um psicopata para segmentar essa nova mas já mostrada história.
Uma trama confusa é projetada em tela que, ao tentar criar misticismo e intrigas do que realmente está acontecendo em tela, através de uma forma de filmar com uso de uma estética psicodélica e que foge ao padrão, com seus tons de cores ferventes e extremo contraste, mas, ao ser narrada acaba por ser o mesmo conto do homem procurado pelo seu passado de mortes e diversas coisas horríveis feitas. Uma produção sobre o lobo em pele de cordeiro que não acrescenta nada de novo neste conjunto e até a estética estilizada se perde ao ser somente uma convenção da obra sem tanto apreço ou pensamento.
Por último, há seu longa-metragem mais interessante. Um filme sobre como o diabo e a distorção do mundo talvez esteja mais próximo do que se imagina, tanto mostrado na produção em sua forma quanto conteúdo. “Longlegs - Vínculo Mortal” se apresenta como o ápice inicial da carreira do diretor Oz Perkins, filho do renomado intérprete de Norman Bates, Anthony Perkins.
O filme acompanha Lee Harker, uma detetive do FBI que está investigando um caso capcioso, um assassino que mata a distância e não deixa rastros alguns, fazendo, na verdade, a própria família assassinada começar suas mutilações em si mesmas. Afinal, como o mesmo faria isso? Algum tipo de influência pairando no ar? Ou talvez o retoque diabólico?
“Longlegs” não é apenas um dos filmes de horror mais interessante da carreira de Nicolas, com sua interpretação do famigerado, mesmo que recente, serial killer, como também é um dos melhores longas de terror da década. Aqui nada está exato, a narrativa constantemente se mexe para direções surreais, que nem a equivalência em verossimilhança entre obra e realidade pode ser medida ao ponto em que o paranormal, em um filme de investigação e resolução de caso, é adotado em plenitude. Assim, nada realmente importa na trama, mas, sim, o sentimento angustiante a ser passado, portas que dariam a jumps cares em outras produções do gênero, aqui não fazem nada, o repentino e improvável mora em “Longlegs” e é por isso que o mesmo é um show para fãs do gênero, ao não ser o que convém, mas o que espanta, assim como Nicolas Cage em seu papel.
Aqui o ator é desfigurado, destroçado e remontado por intermédio de plásticas e cirurgias feitas pelo personagem temido, aumentando um aspecto de desnaturalização com o real. Porém, o próprio age como uma figura inocente, citando anjos, presentes da Igreja e freiras diversas vezes ao longo da trama. Mesmo que não surta efeito, ao sua aparência ser assombrosa, a caricatura feita de assassino por Cage tem seus trejeitos e sua forma de se posicionar em famílias fragilizadas. Longlegs, apesar de ser horripilante, tem que chegar às suas vítimas com carisma, tal carisma que só se encontra em Nicolas Cage e sua performance, com uma personalidade estranha, junto de sua maquiagem extremamente desconfortável, e suas séries de gritos. Um personagem feito com o rigor e versatilidade de Nicolas.
É perceptível, ao final, o quanto um ator, que já esteve, inclusive, em mais de 200 longas-metragens, sabe tanto sobre o fenômeno cênico e quanto o próprio consegue o exercer.