Podcast Eu Sou Muitas, da artista Karlla Girotto aborda violência doméstica e de gênero, questionando os silenciamentos que acompanham este tipo de violência
- Categoria: Geral
- Publicação: 04/10/2024 17:19
- Autor: Giulia Hartvite
_Série de entrevistas idealizada pela artista e professora aborda a violência que permeia as relações femininas na sociedade por meio de tabus, abusos e como as mulheres performam suas vivências a partir dessas agressões;_
_Com realização do Centro Cultural São Paulo, episódios semanais reúnem pensamentos e depoimentos de ativistas, psiquiatras, psicoterapeutas, psicanalistas, artistas, profissionais da saúde, líderes comunitárias, advogadas e especialistas na Lei Maria da Penha;_
_Com sensibilidade, os relatos trazem o pensamento das entrevistadas e suas histórias de descoberta da situação de violência, medo, a jornada em direção ao autocuidado e auto-amor, apresentando ainda ferramentas para lidar com a violência, orientações e serviços públicos de acolhimento, disparando contra o silenciamento._
*São Paulo, setembro de 2024* – Já está no ar o *podcast Eu sou muitas* , parte importante do projeto idealizado e dirigido pela *artista-clínica e professora Karlla Girotto* , com realização do Centro Cultural São Paulo (CCSP).
Criado em 2014, o projeto Eu sou muitas é um *espaço de reflexão crítica e de fortalecimento feminino baseado nas artes visuais e performativas* , com foco na promoção, protagonismo e liderança de mulheres. A iniciativa questiona as relações sociais vivenciadas pelas mulheres, trazendo os contextos histórico, cultural e social da violência doméstica e de gênero, por meio do relato de perspectivas feministas e transfeministas do sul global.
O podcast apresenta uma *série composta por dezessete episódios* — um por semana — trazendo *reflexões profundas sobre o que é considerado minoritário* , segundo Karlla Girotto, idealizadora e diretora do Eu Sou Muitas. “Não estamos falando de quantidade, mas da qualidade do que se desvia das formas e forças dominantes e supremacistas. Nesse sentido, questionamos esse projeto de mundo que é supremacista e dominante e impõe suas representações sobre os corpos das mulheres (mas não só, é um projeto que contamina a todes). Tomar consciência de como esse mecanismo atua sobre nossos corpos e nos desviarmos desses gestos e imagens é uma forma de curar nossas dores e de nos fortalecer para retomarmos as rédeas das nossas vidas como um campo de criação individual e coletiva. É um processo decolonial que estamos propondo”, afirma.
*Com sensibilidade artística e sensorial* , os episódios trazem conversas com ativistas, psiquiatras, psicoterapeutas, psicanalistas, artistas, profissionais da saúde, líderes comunitárias, advogadas e especialistas na Lei Maria da Penha. Todas/os vão compartilhar com a/o ouvinte suas experiências de sofrimento e de tomada de consciência sobre a violência – algumas *relatando episódios pessoais* , outras como profissionais que trabalham diretamente no enfrentamento à violência, trazendo reflexões sobre as *exigências do performar feminino na sociedade* , *relações de vulnerabilidade e poder* . Vão também apresentar ferramentas para lidar com a violência projetada e implementada pelo colonialismo, mecanismos de fortalecimento e empoderamento, orientações e serviços públicos de acolhimento à mulheres cis e trans que sofrem essas violências.
*Highlights*
O primeiro episódio tem a participação de *Senhorita Bira* , educador que tem como campo de estudo as políticas públicas e ciências humanas, *analisando o comportamento da sociedade, da religião e do patriarcado.* Bira também reflete sobre como as violências no campo afetivo estão diretamente relacionadas à ideia do amor romântico, e como isso se dá quando o denominador racial é considerado na equação.
Já o segundo papo é com *Geni Nuñez* , escritora, psicóloga e *ativista indígena guarani* . A psicóloga fala sobre a *relação sensível entre os estereótipos de desejo da vítima e a violência sofrida* , situação em que a vítima muitas vezes é culpabilizada ou tem sua moral atacada. Nuñez reforça que não há razão e ou fundamento para a violência.
A escritora, diretora de teatro, roteirista e educadora social, *Nicole Aun* compartilha no terceiro episódio da série suas reflexões a respeito do *poder exercido pelo patriarcado sobre os corpos femininos* , e os privilégios exercidos pela figura masculina no trânsito social.
Outro destaque é a conversa com a psicanalista e pesquisadora de temas do corpo, do testemunho, da sexualidade e da arte *Karina Acosta* , que, analisando a importância da escuta dessas vítimas, considera que se deve ir além de uma responsabilidade individual. *“Não há como suportar o insuportável, e dessa forma precisamos criar de alguma maneira presenças capazes de assentir essas dores”* , afirma.
Em um episódio bastante informativo, a promotora legal *Anna Lannas* fala sobre a *rede de atendimento às mulheres vítimas de violência na cidade de São Paulo* e os serviços especializados, tais como o Disque 180, a Central de Atendimento à Mulher, os Centros de Referência da Mulher, Casas da Mulher, abrigos sigilosos, entre outros espaços para a preservação da vida e dignidade da mulher.
O papo com a artista visual e pesquisadora *Bárbara Milano* apresenta uma situação que contribui para a *revitimização de muitas mulheres e suas famílias* *: a impunidade.* Ao relatar o crime de feminicídio que tirou a vida de sua irmã, Beatriz Milano, em 2018, Bárbara traz à tona uma discussão sensível sobre o exercício de funções públicas por pessoas condenadas por esse tipo de crime. O assassino de Beatriz, o médico Fernando Veríssimo de Carvalho, condenado a 41 anos de prisão pelo crime hediondo, foi contratado pela Companhia de Desenvolvimento de Rondonópolis (Coder) e estava exercendo a função pública de atendimento de saúde enquanto cumpria sua pena em regime semi-aberto. O caso gerou revolta, e por meio de mobilização social, Bárbara conseguiu que um projeto de lei que proíbe a contratação de condenados por feminicídio a cargos públicos efetivos e/ou comissionados fosse aprovado em Rondonópolis (MT). A luta de Bárbara é que o projeto alcance o Congresso Nacional e se torne lei federal.
Também participam de papos com a artista Karlla Girotto o psicólogo *Zeca Carú* de Paula, a artista e articuladora à frente da comunidade LGBTQIAP+ *Vicenta Perrota* , a artista e profissional da saúde com ênfase em eutonia *Ana Dupas* , e a artista e profissional de saúde com ênfase em práticas somáticas e de voz *Mariana Marcassa* . Estão confirmadas ainda as presenças de *A Transälien* , multiartista, idealizadora da Coletividade MARSHA! e articuladora pelos direitos das pessoas trans e travestis no Brasil, *Mariane Lima* , artista e fotógrafa, *Amara Moira* , travesti, escritora e coordenadora no Museu da Diversidade Sexual, *Duda Checa* , psicóloga e poeta, *Ana Paula Braga* , advogada especialista em direitos das mulheres, *Crioulla Oliveira* , artista e profissional de saúde com ênfase em banhos terapêuticos, e *Juliana Puccini* , produtora e comunicadora de projetos culturais e socioambientais.
*Sobre o Eu Sou Muitas*
O projeto Eu Sou Muitas foi criado pela artista Karlla Girotto em 2014 como um espaço de reflexão crítica e de empoderamento feminino, ao reunir mulheres cis e trans violentadas e vitimizadas em relacionamentos abusivos e violentos. Esse espaço tem foco na promoção e no fortalecimento do protagonismo e da liderança feminina, bem como fazer valer os seus direitos.
*Sobre Karlla Girotto*
Karlla Girotto é artista, professora, curadora e escritora.
Doutora e Mestra em Psicologia Clínica pelo Núcleo de Estudos da Subjetividade, PUC/SP, gosta de se pensar uma artista-clínica, por acreditar em uma abordagem sem barreiras e em uma escuta atenta para todas, todos e todes, inclusive os não-humanos. Entende que a dimensão clínica da arte é parte fundamental do fazer artístico e relaciona e elabora as presenças no mundo, em coletividade.
Trabalha pelas relações que se instauram nos processos de invenção – imaginativos, mágicos, artísticos, políticos, cósmicos, curatoriais – em relação com as memórias e o campo das forças. A escuta clínica e a dimensão clínica da arte ancoram seus processos.
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