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HISTÓRIA DA TELENOVELA NO BRASIL

  • Categoria: Novelas
  • Publicação: 23/09/2024 18:35
  • Autor: Prof. Dr. Luís Fernando Ferreira de Araújo; Prof. Me. Vagner de Amorim Palomares

Com a introdução do videoteipe, em 1961, viabilizou-se a telenovela diária; mas sua utilização foi limitada. Somente a partir de 1963, em São Paulo, a primeira telenovela diária, gravada em videoteipe foi 2-5499 Ocupado, transmitida pela TV Excelsior, adaptada por Dulce Santucci, baseada no original de Alberto Migré. No elenco: Glória Menezes, Tarcísio Meira, Lolita Rodrigues. Glória Menezes era uma presidiária que trabalhava como telefonista do presídio. Tarcísio Meira apaixona-se por ela através do único meio de contato possível: a voz, sem saber sua real condição. Foi exibida no horário das 19 horas, em meados de julho a setembro de 1963, sem muito sucesso, mas seu registro tem grande valor histórico.

A telenovela diária tornou-se popular em 1965, com O Direito de Nascer, do cubano Félix Caignet, adaptada por Teixeira Filho e Talma de Oliveira, com direção de Lima Duarte e José Parisi. Transmitida pela TV Tupi, no horário das 21 horas, obteve uma expressiva audiência. Durante oito meses, encantou o telespectador de São Paulo e do Rio de Janeiro com a história de Maria Helena (Nathália Thimberg), mãe solteira na sociedade moralista de Cuba do início do século. Seu filho é ameaçado pelo pai tirano, Dom Rafael (Elísio Albuquerque), que não aceita o neto bastardo. Dolores (Isaura Bruno), empregada da família, foge levando a criança. Com outro nome e em outra cidade, ela cria e educa Albertinho (Hamilton Fernandes) que se forma em medicina. O neto bastardo salva seu avô Dom Rafael e acaba se casando com Isabel Cristina (Guy Loup). Essa telenovela foi um marco na evolução da telenovela no Brasil.


Depois de O Direito de Nascer, o gênero telenovela se afirmou, afastando-se do melodramático. A primeira telenovela a romper com este gênero foi Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso, com direção de Lima Duarte, que foi ao ar pela TV Tupi às 20 horas, no período de 4 de novembro de 1968 a 30 de novembro de 1969. No elenco: Luís Gustavo, Irene Ravache, Bete Mendes e Plínio Marcos. Essa telenovela incorporou a realidade como cenário e pano de fundo. Em sua trama, havia a situação do dia a dia, próximo da realidade conhecida pelo telespectador, o uso de uma linguagem coloquial, personagens que não eram completamente bons e nem maus e temas voltados para a ascensão social e a malandragem. A partir de Beto Rockfeller, os autores passaram a inserir, nas tramas, referências mais próximas da realidade brasileira, a saber:


- Os problemas do homem do campo e do interior foram abordados nas telenovelas Renascer, Rei do Gado e Cabocla (exibidas pela Rede Globo) e Pantanal (exibida pela Rede Manchete). Todas do autor Benedito Ruy Barbosa.

- O homossexualismo foi abordado de maneira suave nas telenovelas, A Próxima Vítima de Silvio de Abreu, Senhora do Destino de Aguinaldo Silva, Desejo de Mulher de Euclydes Marinho e América de Glória Perez. Todas exibidas pela Rede Globo.

- O preconceito racial foi inserido e explorado na trama da telenovela A Próxima Vítima de Silvio de Abreu.

- O sexo passou a ocupar espaço, com plena liberdade, no horário das 19 horas, nas telenovelas Quatro por Quatro, Uga Uga, Vira Lata de Carlos Lombardi, exibidas pela Rede Globo.
- O amor entre pessoas de classes sociais diferentes é frequente nas tramas das telenovelas Belíssima de Silvio de Abreu e Alma Gêmea de Walcyr Carrasco, exibidas pela Rede Globo.

A telenovela desenrola-se em uma pluralidade dramática, isto é, várias células dramáticas, ligadas entre si. Cada célula tem seu próprio conflito, que, no decorrer da história, o autor vai resolvendo, dentro de uma sucessividade de ações. Essa sucessividade se desdobra em uma liberdade contínua e também na organização dos plots.

Para Comparato (1983, p. 82), “plot é o dorso dramático da história, as ações organizadas em conexão, de modo que se suprimirmos ou deslocarmos qualquer uma delas alterará o todo. Implica a ideia de causa e efeito, refere-se ao encadeamento dos acontecimentos segundo uma ordem desejada pelo autor. Uma cadeia de acontecimentos”.


Ainda segundo Comparato (1983, p. 89), em sua obra Roteiro para cinema e televisão, os mais usuais plots na ficção televisiva são:

  • Plot de Amor – um casal que se ama é separado por alguma razão, volta a se encontrar e tudo acaba bem.
  • Plot de Sucesso – histórias de um homem que ambiciona o sucesso, com final feliz ou infeliz, de acordo com o gosto do autor.
  • Plot de Triângulo – é o caso típico do triângulo amoroso.
  • Plot de Volta – filho pródigo volta à casa paterna, marido que volta da viagem etc. 
  • Plot de Vingança – um crime (ou injustiça) foi cometido e o herói faz justiça pelas próprias mãos ou vai à busca da verdade.
  • Plot de Família – mostra a relação entre famílias ou grupos que de alguma forma estão ligados.
  • Plot de Sacrifício – um herói que se sacrifica por alguém ou por uma causa.
  • Plot de Cinderela – é a metamorfose de um personagem de acordo com os padrões sociais vigentes.
  • Plot de Conversão – converter um bandido em herói, uma sociedade injusta em justa etc.


As telenovelas nunca contêm apenas um desses plots. Sendo histórias de multiplot, tratam sempre de três, quatro ou de todos ao mesmo tempo.

A linguagem da telenovela é simples, possibilitando ao telespectador acompanhá-la sem maior esforço de entendimento. O ritmo é acelerado, baseia-se na ação, por isso é uma narrativa ágil. Em decorrência da pluralidade dramática, a telenovela tem um número ilimitado de personagens.