Pesquisador baiano Manuel Alves revela documentos inéditos sobre a chegada da eugenia no Brasil e propõe novo conceito de branquitude
Estudo pioneiro antecipa em pelo menos três anos o marco inicial da eugenia no Brasil e apresenta o conceito de Micropoder da branquitude, ampliando o debate
- Categoria: Literatura
- Publicação: 16/10/2025 21:38
- Autor: Caroline Vilas Bôas

A recente pesquisa do historiador e professor Manuel Alves de Sousa Junior, doutor em Educação pela UNISC e docente do IFBA em Lauro de Freitas, trouxe à tona cinco documentos inéditos que mudam o entendimento sobre a chegada da eugenia ao Brasil. Os registros, encontrados em jornais e revistas datados entre 1909 e 1912, revelam que a presença da doutrina racial no país aconteceu antes do que apontavam os estudos anteriores.
A eugenia, formulada no final do século XIX pelo inglês Francis Galton, ganhou espaço global no início do século XX, alcançando, por exemplo, a Europa, os Estados Unidos e diferentes países da América Latina. Até então, os pesquisadores situavam a entrada da eugenia no Brasil a partir da década de 1910, com destaque para 1912, ano citado por Renato Kehl, principal defensor da eugenia no país na primeira metade do século XX. O levantamento de Sousa Junior, no entanto, mostra que já em 1909 o tema era noticiado na imprensa brasileira, especialmente sobre a atuação da Sociedade Eugênica de Londres e os debates internacionais que culminaram no I Congresso Internacional de Eugenia em 1912.
“Compreender que a eugenia começou no Brasil antes do que se supunha ajuda a repensar o impacto histórico e social dessas práticas sobre populações negras, indígenas, pobres e pessoas com deficiência. Tal constatação tem implicações diretas na forma como a sociedade analisa, até hoje, temas como racismo, saúde pública, educação e política”, explica o pesquisador.
A tese de doutorado de Sousa Junior, intitulada “Branco com branco, preto com preto: contribuições da educação eugênica para a produção da branquitude no Brasil (1909-1945)”, evidencia como as ideias eugenistas influenciaram diretamente a constituição da branquitude no país, legitimando estereótipos raciais, políticas de imigração seletiva e práticas discriminatórias que reverberam até hoje.
“A justificativa científica para o racismo, a influência da eugenia na Educação e na Cultura, e ideais eugenistas como política de Estado são alguns exemplos de contribuições para a constituição da branquitude no Brasil. O enraizamento desses elementos na sociedade deixou como legado um impacto que ainda pode ser percebido na contemporaneidade”, destaca o autor.
Micropoder da branquitude
Além de trazer novos marcos históricos, a pesquisa também propõe uma ampliação conceitual ao debate acadêmico. Sousa Junior apresenta o termo Micropoder da branquitude, compreendido como um segmento do biopoder que se manifesta de forma capilar nas relações sociais. Segundo o autor, ele atua por meio de sinais subjetivos e não verbais que garantem privilégios simbólicos e materiais à população branca.
“Compreender o fenômeno Micropoder da branquitude é fundamental para desvelar os mecanismos que perpetuam desigualdades raciais, sobretudo por meio da subjetividade e, assim, fortalecer estratégias de enfrentamento ao racismo e de promoção da equidade social”, afirma.
Produção intelectual e agenda literária
Manuel Alves de Sousa Junior é autor e organizador de 24 livros, sendo 15 dedicados às questões raciais. Entre suas obras recentes estão “Dicionário racial: termos afro-brasileiros e afins - volume 1” (2024), com o segundo volume previsto para dezembro, “História da raça, mestiçagem e branqueamento da população no Brasil” (2024) e “Como conversar com crianças sobre racismo e diversidade” (2025).
Atualmente, participa de eventos literários em diferentes estados do país. Sua agenda inclui a FLILAURO, em Lauro de Freitas (12/09), a FLICAR, em Amélia Rodrigues (19 e 20/09), a Bienal do Livro de Pernambuco (03 a 07/10) e a Bienal do Livro de Alagoas (31/10 a 03/11).
Ficha técnica
Pesquisador: Manuel Alves de Sousa Junior
Formação: Doutor em Educação pela UNISC | Historiador | Professor do IFBA Lauro de Freitas | Colunista do Soteroprosa | Administrador do perfil @debateracialpolitico
Obras publicadas: 24 livros, sendo 15 na área racial.
Serviço
Mais informações sobre o pesquisador e suas publicações: @debateracialpolitico
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