Care Killing: quando a exaustão se torna crime
Envelhecimento da população japonesa faz-se criar tragédias envolvendo idosos
- Categoria: Atualidade
- Publicação: 18/07/2025 15:50
- Autor: Amauri Gomes

Com uma das menores taxas de natalidade do mundo, o Japão tem como consequência uma população cada vez maior de pessoas na terceira idade e isto, vêm criando problemas graves das mais variadas vertentes. Uma delas é a questão econômica em virtude das aposentadorias, que não estão cobrindo os altos custos de vida.
Mas recentemente outra que além da exaustão está causando alta em crimes graves, o chamado Care Killing.
Atentados contra a vida por quem ali está para protegê-la
O aumento desta lamentável crescente, é fruto de um estudo da Professora Etsuko Yuhara, da Universidade Nihon Fukushi. Etsuko em formação na área de bem-estar social. O Care Killing nada mais é que simplesmente o homicídio contra os idosos pelas mãos de seus cuidadores.
Estima-se que de 2011 a 2021, houve cerca de 443 casos que culminaram em mortes ou suicídios relacionados a chamada “exaustão extrema”, com base em dados do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Japonês. Ainda de acordo com a professora, 55,8% dos responsáveis pelos fatos são filhos adultos, 23,6% cônjuges, além, de 12,6% serem genros ou noras e 8% outros familiares.
“A demência é um dos fatores que sobrecarregam os cuidadores, muitos dos quais também são idosos, e enfrentam limitações físicas e emocionais” – diz Etsuko.
Irmão contra irmãos
Em Junho do ano passado (2024), um homem de 77 anos foi detido suspeito de assassinar a própria irmã, em sua residência. A vítima sofria de esquizofrenia a pelo menos três décadas. O autor do crime aparentava sinais de depressão e demência.
Outro caso envolve um idoso de 81 anos identificado como Hiroshi Fujiwara. Hiroshi foi condenado por matar a sua esposa que era cadeirante, no qual viviam juntos a 41 anos. Diante do juri no tribunal, o homem declarou:
“Se eu tivesse pedido ajuda para alguém, isso não teria acontecido”. No dia do fato, ele planejava se suicidar, algo recorrente nestes casos.
Em busca de soluções
No intuito de combater este mal e diminuir a falta de mão de obra de cuidadores profissionais, o governo japonês têm buscado “importar” pessoas que atendam a estas necessidades. Um exemplo disto, é a brasileira natural da pequena cidade de Três Pontas – MG - Joana Cândida da Silva. A mineira vive em uma das grandes cidades japonesas: Yokohama.
“Por ser estrangeira, preciso redobrar a atenção. Tudo está em japonês, e há muitas regras de segurança” – ela relata.
Mesmo em meio a correria diária típica de uma metrópole, ainda mais de quem vivia em uma pacata cidade anteriormente, Joana afirma ser bem tratada e gosta de seu trabalho.
“Os velhinhos dizem que os brasileiros têm o coração mais quente”.
Joana foi transferida recentemente para uma espécie de creche voltada a terceira idade, que inclui assistência 24 horas por dia. Dentre as funções, estão o monitoramento da saúde dos idosos que chegam o dia, auxílio com a higiene pessoal, cuidados com a alimentação e nas atividades de lazer que incluem até Karaokê, muito popular no país até entre os jovens.
“No ano novo, muitas famílias pedem para cuidarmos do idoso. Nosso trabalho é aliviar o peso do cuidador domiciliar. Ele precisa de um tempo para si.” - declara a gerente do local Naomi Kaneko, onde a brasileira Joana agora integra o quadro de funcionários.
Na maior parte dos casos, os lares dão preferência para os pacientes que mais necessitam de auxílio. Muitos destes que não atendem a este requisito e não possuem parentes próximos destes centros de cuidadores, acabam vivendo a terceira idade de forma solitária, sem qualquer rede de apoio.
No ano de 2024, cerca de 76 mil pessoas vieram a óbito sozinhas em casa, sendo 76% em média com idade superior a 65 anos. O objetivo é a diminuição destes casos, fazendo espalhar um número maior destes locais e cuidadores profissionais.
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