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Maternidade depois dos 30 cresce no Brasil; psicóloga explica

Quase 4 em cada 10 nascimentos no Brasil já ocorrem entre mulheres com mais de 30 anos. Psicóloga analisa os efeitos emocionais e sociais desse adiamento
  • Categoria: Saúde
  • Publicação: 12/06/2025 19:56
  • Autor: Chris Coelho
O Brasil registrou, em 2023, 2,52 milhões de nascimentos, uma queda de 0,7% em relação a 2022, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse é o menor número dos últimos cinco anos e o quinto recuo consecutivo na série histórica. Ao mesmo tempo, cresce a presença de mulheres com mais de 30 anos entre as mães, que já respondem por quase 4 em cada 10 bebês nascidos no país.

A psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline, explica que esse fenômeno é reflexo de diversas mudanças sociais e culturais, “o adiamento da maternidade está relacionado a fatores como a busca pela estabilidade financeira, a dedicação à carreira e a maior valorização da liberdade pessoal”. Segundo ela, é importante que as mulheres se sintam seguras em suas escolhas e que contem com o apoio necessário para viver essa experiência com confiança e tranquilidade.

A escolha da maternidade tardia 

Escolher ter filhos em uma fase mais avançada da vida é uma decisão cada vez mais comum e deve ser apoiada de maneira integral, segundo analisa a especialista. Schiavo também destaca que o apoio psicológico é importante em todas as etapas da maternidade, desde o desejo de engravidar até o pós-parto.

“É importante que elas se sintam plenamente apoiadas em suas escolhas. O suporte emocional, iniciado ainda antes da gestação, contribui para que as mulheres vivenciem essa jornada de forma segura e respeite suas necessidades e desejos”, explica.

Tira-dúvidas com a psicóloga

Existe um momento certo para ser mãe?

Não existe um momento ou uma forma única de ser mãe. A ideia de uma mãe perfeita ou de um momento ideal para a maternidade é um mito. O que realmente importa é que cada mulher se sinta apoiada e segura em sua decisão, com acesso às informações e ao suporte necessário para viver essa experiência de forma plena e realista. 

O que as mulheres devem considerar antes de adiar a maternidade?

É importante lembrar que, com o passar dos anos, a fertilidade diminui. Após os 35 anos, engravidar pode se tornar mais difícil, e os óvulos, que envelhecem com a mulher, aumentam o risco de complicações como síndromes e abortos espontâneos. Muitas mulheres só descobrem essas dificuldades ao tentar engravidar mais tarde, por isso, é fundamental que se informem sobre opções como o congelamento de óvulos, que pode preservar as chances de uma gestação futura com menos riscos.

Por que a culpa pelo sucesso ou fracasso dos filhos recai sobre a mãe?

Isso tem a ver com a construção da romantização da maternidade, que se intensificou a partir do século XVIII. Até então, a maternidade não seguia o caminho do 'amor materno' ou 'instinto materno' como conhecemos hoje. O sucesso ou fracasso dos filhos passou a ser atribuído diretamente à mãe, excluindo o pai dessa responsabilidade. Essa ideia se consolidou a ponto de todo o peso da educação e cuidado com os filhos recair sobre as mulheres.

Qual é o impacto da maternidade na vida das mulheres?

A mulher grávida, muitas vezes, se torna invisível aos olhos da sociedade. A atenção é deslocada para o bebê, e seus próprios sonhos e necessidades são frequentemente ignorados. Além disso, vivemos em uma cultura machista onde, na maioria dos casos, o pai não assume a responsabilidade de forma equitativa, deixando a mulher sobrecarregada e vulnerável a conflitos emocionais.

Como essa sobrecarga pode afetar a saúde mental das mães?

A cobrança excessiva sobre as mulheres para que sejam perfeitas na maternidade pode gerar angústia e questionamentos sobre sua capacidade. Isso afeta diretamente a saúde mental, gerando ansiedade e outros conflitos psicológicos, especialmente quando a mulher sente que deve abrir mão de seus sonhos e projetos pessoais para atender às expectativas sociais.


Quem é Rafaela Schiavo?

É psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Desde sua formação inicial, dedica-se à saúde mental materna, sendo autora de centenas de trabalhos científicos com o objetivo de reduzir as elevadas taxas de alterações emocionais maternas no Brasil.


Possui graduação em Licenciatura Plena em Psicologia e graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Além disso, concluiu seu mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem e doutorado em Saúde Coletiva pela mesma instituição. Realizou seu pós-doutorado na UNESP/Bauru, integrando o Programa de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Desenvolvimento Humano, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento pré-natal e na primeira infância; Psicologia Perinatal e da Parentalidade.