Notícias

Análise de Bacurau

Bacurau é mais do que um filme, é um evento. É corajoso, é político, é brasileiro e é nordestino.
  • Categoria: Critica de Filmes
  • Publicação: 05/01/2025 01:08
  • Autor: Ítalo Morelli Junior
 Chega em boa hora e no pior momento do nosso país. Não tem medo de ser um filme de esquerda, recheado de referências, homenagens e recados nas entrelinhas. Mescla vários estilos, tem ecos de Glauber Rocha e foi filmado com câmeras Panavision. E é nosso porque retrata o Brasil atual pra gringo ver e se esconder de vergonha embaixo da poltrona do cinema.
Começa com um plano sequência no espaço, ao som de Não identificado na voz de Gal Costa e focaliza a Terra só pra lembrar que, pasmem, não é plana. Em seguida e num futuro próximo, somos introduzidos ao cotidiano da pequena cidade de Bacurau, onde seus moradores velam dona Carmelita (Lia de Itamaracá), falecida aos 94 anos e querida por todos.
Aquele cotidiano típico do sertão nordestino é atualizado ao mostrar que mesmo sem água e com a saúde e o ensino precários, não falta sinal de internet e até o morador mais humilde sabe o que é um drone. Toda aquela rotina é abalada com a chegada de um casal de forasteiros cariocas. Bacurau deixa de existir nos mapas virtuais e seus moradores começam a ser mortos por um grupo de estrangeiros praticantes de caçada humana, onde cada vítima vale ponto. Alguém aí lembrou das milícias?
O que jamais poderiam imaginar, é que aquela cidadezinha esquecida pelos governantes e isolada num país tão rico, tivesse habitantes tão fortes, unidos e inteligentes, formando resistência com base cultural – só pra arejar as idéias de quem é do sul e sudeste e que ainda subestima essa coragem e força do nordestino. O “Ninguém solta a mão de Ninguém” nunca fez tanto sentido.
O elenco não tem um protagonista definido e todos brilham, até o elenco de apoio. Silvério Pereira e Sônia Braga são os destaques, com seus destemidos personagens, despidos de qualquer estética ou vaidade. O alemão Udo Kier também está ótimo, numa das melhores interpretações de sua carreira.
Outro ponto impressionante é a qualidade do som, coisa rara no cinema brasileiro. Bacurau tem 90% de externas e o som dos tiros é absurdo.

A conclusão dele é tudo o que precisamos. Obrigado a todos os envolvidos e viva o Nordeste!